Foi um punk antes do punk ter nascido: morreu Kim Fowley

A solo, ou na sombra a lançar grupos como as Runaways, o americano Kim Fowley marcou a história do rock das últimas décadas.

Fotogaleria
Kim Fowley personificava uma forma insurrecta de estar no rock
Fotogaleria
Fotogaleria

Uma das personalidades mais carismáticas dos anais do rock & roll, sendo associado a centenas de discos das últimas décadas, em diversos papéis, o americano Kim Fowley, morreu esta quinta-feira, aos 75 anos, devido a um cancro na bexiga.

Ao longo da sua carreira foi um pouco de tudo: cantor, compositor, produtor, manager, DJ e poeta. O seu nome aparece em discos de gente tão diferente como Doris Day, Jonathan Richman, John Lennon ou Cat Stevens, para além de ter lançado uma mão cheia de álbuns a solo.

Foi também o catalisador de muita da música que emergiu nas décadas de 1960 e 1970 em Los Angeles, conduzindo uma série de protegidos à notoriedade, embora ele se tenha conservado sempre na sombra, uma figura de culto, mantendo-se de forma estudada à margem do sistema.

Quem com ele privou reconhecia-lhe vitalidade e capacidade de reinvenção, embora o seu humor ácido e um certo cinismo empresarial também lhe granjeassem má fama. Foi um punk antes do punk ter nascido. Nos anos 1960, durante o período hippie, foi olhado com alguma desconfiança, mas com o surgimento, nos anos 1970, do glam-rock e do punk estava no seu elemento. Não espanta que, por vezes, se diga que Malcolm Maclaren, o mentor dos Sex Pistols, se tenha inspirado nele. Existe em ambos o mesmo sentido de encenação e um certo gosto pelo risco e pela provocação.

Manteve-se activo até ao último momento, tendo colaborado no disco Pom Pom de Ariel Pink do final de 2014, e trabalhou como DJ na emissora de rádio de Steve Van Zandt até à semana passada. Nos seus últimos dias encontrou refúgio na casa de Cherie Currie, que havia sido cantora das Runaways, o quarteto de raparigas adolescentes que converteu em estrelas nos anos 1970. Ao longo de décadas fez isso: descobriu, fabricou e tornou conhecidos uma série de grupos, trabalhando-os de uma forma precisa.

Nasceu em 1942, em Los Angeles, e fez os seus primeiros discos no final dos anos 1950 com o baterista Sandy Nelson, embora o sabor do sucesso só o tivesse experimentado depois de ter produzido Cherry pie, para os Skip & Flip, ou quando formou os The Hollywood Argyles, que treparam pelas tabelas de vendas em 1960 até ao primeiro lugar com Alley oop, ou ainda quando lançou os The Rivingtons do clássico Papa.oom-mow-mow.

A meio dos anos 1960 trabalhou, por exemplo, com Frank Zappa, compôs para os Byrds, Beach Boys ou Soft Machine e produziu para Gene Vincent ou Warren Zevon. Em 1967 dá-se a sua estreia a solo, com o álbum Love Is Alive and Well, seguindo-se Born To Be Wild (1968), The Day The Earth Stood Still (1970) ou International Heroes (1973), embora nenhum dos discos a solo tenha alcançado a notoriedade de outros projectos.

Em 1975, depois de ter completado o álbum Animal God Of The Streets, retornou ao seu papel de fabricação de talentos, reunindo as Runaways, um grupo rock no feminino, de onde se destacavam Joan Jett, Lita Ford e Cherie Currie. No ano seguinte produziu a estreia homónima do grupo e escreveu, em conjunto com Joan Jett, o grande êxito Cherry bomb.

Nas décadas seguintes manteve-se activo, com álbuns como Hotel Insomnia (1993) ou Kings Of Satuday Night (1995), em colaboração com Ben Vaughn, tornando-se num ícone, personificando uma forma insurrecta de estar no rock e transformando-se em fonte de inspiração para novas gerações.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários