José Cid disse mal dos transmontanos há seis anos, o Facebook puniu-o hoje

Entrevista de Nuno Markl ao músico em que este fala de "pessoas medonhas, feias, desdentadas" gera indignação nas redes sociais e cancelamento de concerto. Ambos já pediram desculpas.

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Um detalhe da casa e estúdio de José Cid em Mogofores, Anadia Adriano Miranda
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José Cid em concerto em Vila Chã de Ourique em 2006 NUNO FERREIRA SANTOS

Uma entrevista feita há seis anos motivou o cancelamento de um concerto de José Cid no próximo dia 11 de Junho: o cantor criticou os habitantes de Trás-os-Montes numa conversa com Nuno Markl que o canal Q retransmitiu por estes dias e as redes sociais implodiram em torno dele, motivando pedidos de desculpas do cantor e do apresentador, mas também o cancelamento de um concerto em Alfândega da Fé.

Meses depois da polémica que envolveu o livro de Henrique Raposo sobre a sua experiência familiar do Alentejo e das críticas de alentejanos ofendidos por Alentejo Prometido, as palavras ácidas de José Cid sobre os transmontanos voltaram a ecoar na televisão e criaram um novo caso em torno do orgulho regional, amplificado pelas redes sociais. No vídeo com um excerto de Showmarkl, que está a circular nas ditas redes sociais – e sobretudo nas páginas criadas para lamentar as suas declarações –, ouve-se José Cid afirmar: “Digo na brincadeira que deviam fazer uma Muralha da China em Trás-os-Montes para não deixarem passar alguma música que vem de lá." Com um riso de Markl a entrecortar a conversa, o músico prosseguia, em 2010: “Essas pessoas do Portugal profundo já deviam ter evoluído. Vêm excursões de pessoas que nunca viram o mar para o Pavilhão Atlântico, pessoas assim medonhas, feias, desdentadas e efectivamente isso não é Portugal."

A conversa era sobre a música popular portuguesa e nela José Cid teceu comentários de que diz agora estar arrependido. A reacção nas redes sociais foi de indignação e foram criadas páginas como Todos contra José Cid, que à hora de publicação desta notícia tinha já mais de sete mil seguidores, ou Trás-os-Montes sem José Cid, esta com mais de três mil “gostos”, bem como uma petição online em que cerca de 1.700 pessoas exigem algo que já foi cumprido: um pedido de desculpas do músico.

“Injustamente, falei mal do público e do povo transmontano, apresento, por esta via, as minhas mais sinceras desculpas", disse Cid esta segunda-feira num comunicado divulgado pela sua editora, a ACid Records. E acrescenta: “Estou muito triste comigo."  José Cid encerrou ou suspendeu a sua página no Facebook, que se encontra agora inacessível.

Também Nuno Markl, apresentador do programa entretanto desaparecido, e considerado um influencer nas redes sociais portuguesas – tem mais de 705 mil seguidores na sua página de Facebook –, já pediu desculpas. Riu-se das afirmações de Cid no programa da polémica e foi também muito criticado por utilizadores do Facebook e transmontanos indignados. Tanto na sua rubrica na Rádio Comercial O Homem que Mordeu o Cão quanto no seu Facebook, Markl endereçou um pedido de desculpa aos “amigos de Trás-os-Montes”. “Se isto serve para alguma coisa, peço-vos desculpa por me ter rido dos desvarios do Cid no Canal Q há tantos anos. Se não servir para nada – porque toda a gente prefere a guerra do que a paz, nas redes sociais –, tudo o que posso dizer é que continuarei a gostar de Trás-os-Montes como gostei toda a minha vida até aqui. Se me quiserem bater ou insultar, é convosco. Não vou entrar em guerra com pessoas de quem sempre gostei."

Acrescenta Markl, mais à frente, que “é impossível uma pessoa não se rir com os delírios” de José Cid e que se vê na posição do “novo alvo a abater do Facebook". “Rir de uma observação sobre muralhas e falta de dentes não é partilhar uma opinião  é só rir”, remata o humorista num outro post, feito ao início da tarde desta segunda-feira.

Um dos efeitos práticos desta polémica foi o cancelamento de um concerto que o músico tinha agendado para 11 de Junho em Alfândega da Fé, no âmbito da Festa da Cereja, como disse ao Diário de Trás-os-Montes a própria presidente da câmara da localidade “Claro que vamos cancelar a vinda dele e vamos substituí-lo por outro. É evidente que temos de repudiar essas afirmações", disse Berta Nunes, que argumenta que manter o concerto seria um sinal de conivência com as afirmações do músico, que com ou sem pedido de desculpas “irá ser sempre uma persona non grata em Trás-os-Montes”.

Além de Berta Nunes, também o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, comentou o tema – aliás, segundo o Jornal de Notícias, foi o primeiro autarca a reagir –, manifestando “profundo desagrado, repúdio e desilusão pelas lamentáveis declarações”, e ironizando que a construção da muralha pode avançar, mas “para impedir a vinda [de José Cid], para impedir que as suas palavras e a sua música perturbem (...) tão nobres terras”.

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