Jane Fonda: os estúdios deviam ter vergonha de preferir homens a realizar

“Os estúdios são dirigidos por homens que têm como ponto de partida dar emprego a pessoas como eles”, defendeu a actriz.

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A actriz confessou ter encontrado alguns entraves ao longo da sua carreira Reuters

Ainda são poucas as mulheres a realizarem filmes. A discussão à volta do tema não é nova, mas desta vez foi Jane Fonda quem decidiu falar sobre o assunto, aproveitando um momento de conversa no Festival de Sundance para pedir aos estúdios para acabarem com as práticas de emprego orientadas pelo género.

A veterana actriz de 77 anos não foi branda nas palavras: “É uma vergonha que os estúdios sejam tão tendenciosos no que diz respeito ao género.” Jane Fonda foi convidada para uma conversa com a actriz Lily Tomlin, como parte da programação do Festival de Sundance. Respondendo ao desafio de que forma o facto de serem mulheres lhes prejudicou a carreira, as duas actrizes, que em Maio terão uma comédia no Netflix, acabaram a defender a igualdade entre géneros, admitindo ter sentido na pele algumas injustiças.

Olhando para trás, Jane Fonda lamenta ter seguido um caminho fácil no início da sua carreira. “Embora goste de ter sido alguém que causou numa certa geração de homens as suas primeiras erecções”, brincou a actriz em referência a Barbarella, de 1968 – Jane Fonda tornou-se um dos símbolos sexuais da época com este filme.

A actriz vencedora de dois Óscares disse ter encontrado alguns entraves quando tentou impor as suas próprias ideias, os seus próprios projectos. Não houve agente que lhe arranjasse emprego, contou. E isto porque vivia num mundo muito masculino, em que os homens preferiam os homens, geralmente os que já conheciam. Uma situação que lamenta não ter mudado muito nos dias de hoje.

“Os estúdios são dirigidos por homens que têm como ponto de partida dar emprego a pessoas como eles”, defendeu a actriz vencedora de dois Óscares. “É uma questão de género, não que não tenhamos experiência”, continuou. “Temos de provar que somos comerciais”, disse ao público presente, entre o qual se encontrava a realizadora de Selma, Ava DuVernay, a responsável da produção do Sundance, Laura Michalchyshyn, e a criadora da série Transparent Jill Soloway.

Lily Tomlin destacou ainda como muitas vezes as mulheres são mais depressa avaliadas pela sua aparência do que pelo seu talento. Para a actriz, foi preciso aplicar-se mais, tornar-se “utilizável” para ter alguma coisa mais a dar do que a concorrência. “Tens de te tornar boa em alguma coisa”, argumentou a actriz.

“Temos de lutar mesmo muito para conseguir que as mulheres tenham posições de poder e lembrar-nos de que não há regras estabelecidas”, disse Fonda, recordando que “Kathryn Bigelow fez um filme de gajos [Estado de Guerra], enquanto o seu ex-marido James Cameron fez um filme feminista em Avatar”.

Ainda no início deste ano, um novo estudo sobre o tema foi publicado e mostrava que só 7% dos filmes mais rentáveis nos EUA foram realizados por uma mulher.

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