Irão e Israel de acordo: Barenboim não pode tocar em Teerão

O maestro queria dar um concerto em Teerão com a Orquestra Estatal de Berlim. Irão não autorizou por Barenboim ter nacionalidade israelita.

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Em 2008, Barenboim tornou-se na primeira pessoa a ter simultaneamente um passaporte israelita e um passaporte palestiniano CRISTINA QUICLER/AFP

Os intercâmbios culturais entre o Ocidente e o Irão parecem estar em expansão desde que em Julho foi assinado um histórico acordo que restringe as capacidades nucleares do país islâmico. O director do Louvre, Jean-Luc Martinez, planeia visitar Teerão em breve para discutir possíveis colaborações. O responsável pelo departamento de arte islâmica do museu foi antes, em Junho. Itália vai emprestar quatro esculturas clássicas, incluindo uma dos museus do Vaticano, ao Museu Nacional do Irão em Setembro.

Também a Orquestra Estatal de Berlim (Staatskapelle) anunciou recentemente que estava em negociações com o Irão para dar um concerto naquele país com o seu director e maestro Daniel Barenboim. “O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank-Walter Steinmeier, assumiu o patrocínio deste concerto e aplaude a dedicação de Daniel Barenboim em tornar a música acessível às pessoas, para lá de quaisquer fronteiras nacionais, religiosas ou étnicas”, disse a Orquestra Estatal de Berlim num comunicado.

Teriam as coisas mudado ao ponto de um israelita poder dirigir um concerto no Irão – que não reconhece Israel como um país legítimo e proíbe os seus cidadãos de viajarem para o Estado judaico, sob pena de serem punidos com prisão?

A resposta chegou na sexta-feira: as autoridades iranianas fizeram saber que não autorizavam o concerto por causa da cidadania israelita de Barenboim, 72 anos. “O Irão não reconhece o regime sionista e não vai colaborar com nenhum artista desse regime”, afirmou um porta-voz do Ministério da Cultura iraniano citado pela agência alemã DPA.

Nascido em Buenos Aires, na Argentina, neto de judeus russos, Barenboim mudou-se com a família para Israel quando tinha nove anos e já era um pianista virtuoso, tocando em Viena e Roma. Em 2008, tornou-se na primeira pessoa a ter simultaneamente um passaporte israelita e um passaporte palestiniano. Através do seu trabalho, o director tem-se dedicado à aproximação entre os dois lados do conflito; em 1999 co-fundou com o intelectual palestiniano Edward Saïd a Orquestra Divan Oriente-Ocidente, que junta jovens músicos árabes e israelitas e à qual foi atribuído o Prémio Calouste Gulbenkian em 2012.

Não é só o Irão que se opõe à visita de Barenboim. A ministra da Cultura de Israel, Miri Regev, membro da ala conservadora do Likud, acusou o maestro de “promover uma frente anti-Israel” na sua página do Facebook. Regev, que em Junho ameaçou retirar apoios aos artistas que “difamem o Estado de Israel”, escreveu ainda que Barenboim “faz questão de dar pancada em Israel usando a cultura como uma alavanca para as suas ideias políticas anti-israelitas”, e acusou o Irão de promover o terrorismo. Israel opõe-se ao acordo nuclear assinado com Irão em Junho.

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