Incêndio devastador em biblioteca russa é “Chernobil” cultural

Cerca de dois milhões de documentos terão sido destruídos, de registos parlamentares dos EUA, Reino Unido e Itália a documentos da ONU e colecções eslavas.

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O incêndio deflagrou na sexta-feira à noite e passou o dia de sábado activo ALEXANDER UTKIN/AFP
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Perto de dois milhões de documentos potencialmente destruídos em cerca de 24 horas de chamas. Um incêndio devastou dois mil metros quadrados do Instituto Académico de Informação Científica de Ciências Sociais em Moscovo, que alberga mais de dez milhões de documentos únicos coligidos desde o século XVI, originários da Rússia, mas também do Reino Unido, Itália e EUA. A destruição numa das maiores bibliotecas universitárias do país é como “Chernobil”, disse o presidente da Academia de Ciências Russa.

“É uma grande perda para a ciência”, disse Vladimir Fortov às agências de notícias russas, citado pela AFP. “Esta é a maior colecção do seu género no mundo, provavelmente equivalente à [da] Biblioteca do Congresso” norte-americano, lamentou. “Há aqui documentos que são impossíveis de encontrar em qualquer outra parte, todas as ciências sociais usam esta biblioteca. O que aconteceu aqui faz lembrar Chernobil.”

Criada em 1918, a biblioteca alberga uma das mais completas colecções de obras em línguas eslavas e, de acordo com o Wall Street Journal, também inclui importantes documentos históricos relacionados com as Nações Unidas. Há ainda documentos da Liga das Nações e da UNESCO, bem como textos parlamentares norte-americanos, britânicos e italianos que remontam aos séculos XVIII e XIX. Diferentes fontes citam a colecção como tendo entre dez e 14,2 milhões de documentos.

Vladimir Fortov, presidente da Academia de Ciências Russa, estima que 15% da colecção da biblioteca académica tenha sido destruída no incêndio que deflagrou cerca das 22h de sexta-feira no terceiro andar do INION (na sigla original) e, de acordo com o Ministério de Emergências, citado pelo canal de televisão estatal Russia Today (RT), foi declarado extinto pelas 23h24 de sábado. Não há feridos.

Terá sido a água usada pelos cerca de 200 bombeiros que combateram as chamas a principal causadora dos danos e destruição de documentos, e na manhã deste domingo continuava a ser despejada sobre os escombros para evitar reacendimentos.

O director do INION, Yuri Pivovarov, que esteve no local com Fortov para avaliar os danos, não hesitou em classificar o sucedido como uma “tragédia”, visto que, como cita a RT, a maior parte dos documentos ali guardados não tinha sido digitalizada. Ainda assim, muitos livros e documentos salvaram-se por estarem sobretudo arquivados na cave e no primeiro andar do edifício. Apesar de danificados pela água. “Graças à tecnologia moderna, é possível salvar os livros” que tenham sido molhados, acredita Pivarov.

O responsável pelo instituto disse ainda, citado pela RT, que a comunidade científica internacional já o abordou para apoiar a recuperação, embora estime que sejam necessários anos para as necessidades de “reconstrução total” do INION – ali trabalham 330 pessoas e estão inscritos 49 mil leitores.

A investigação para apurar as causas do incêndio ainda decorre, mas os media russos indicam que as primeiras suspeitas apontam para um curto-circuito, de acordo com a AFP. A RT menciona ainda a possibilidade de fogo posto e acrescenta que uma inspecção recente à biblioteca mostrava, segundo o Ministério de Emergências, sete violações de segurança que teriam de ser reparadas até 30 de Janeiro. 

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