ICA diz que “deixou de ter problemas de tesouraria” para 2016

Instituto que gere apoios públicos ao cinema diz que tem orçamento para cobrir “todos os compromissos deste ano”. Tutela previa em Outubro que eram precisos mais 2,2 milhões de euros.

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Rui Gaudencio

A um mês do final de 2016, o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) diz ter “todos os compromissos deste ano” cobertos pelo seu orçamento. As queixas dos agentes do sector do cinema quanto à agilidade financeira do ICA são frequentes e a tutela previa ainda transferir mais 2,2 milhões de euros para o instituto público, mas este garante agora ao PÚBLICO que desde Agosto “deixou de ter problemas de tesouraria”.

O secretário de Estado da Cultura tinha dito ao PÚBLICO, em entrevista em Outubro, que ainda contava com a integração de 2,2 milhões de euros até ao final do ano para saldar todos os compromissos do ICA para 2016 – em Agosto tinham já sido integrados três milhões de euros para esse fim, disse na altura Miguel Honrado.

Em causa está o saldo de gerência do ICA, instituto público que atribui os apoios públicos à produção, exibição, distribuição, escrita ou desenvolvimento de cinema e audiovisual e também na área dos festivais ou da internacionalização, por exemplo, entre cerca de 24 concursos anuais. Esse saldo, alimentado em grande parte pelas taxas pagas pelos operadores de televisão e da publicidade, transita pelas Finanças e têm-se verificado alguns bloqueios de tesouraria que causam falhas nos cofres do ICA.

Na semana passada, o Correio da Manhã deu conta de que o Ministério das Finanças já não libertaria mais verbas para o ICA, ao contrário do que era a expectativa da tutela da Cultura em Outubro. Na verdade, segundo o ICA disse ao PÚBLICO, os 2,2 milhões já não serão necessários. A previsão do Verão era que seriam precisos 5,2 milhões de euros até ao final do ano, mas “essa realidade não se veio a efectivar, já que todos os compromissos deste ano foram e estão cobertos pela liquidez existente”, diz por email o Conselho Directivo do ICA. Os três milhões bastaram.  

A Associação de Produtores de Cinema e Audiovisual (APCA) queixou-se em Setembro numa comissão parlamentar de que o instituto tinha sugerido o adiamento de algumas rodagens até surgirem verbas para as financiar, algo que no sector é identificado como uma prática ocasional para lidar com as exigências legais e a falta de autonomia financeira do ICA. O PÚBLICO questionou o instituto tutelado pela Secretaria de Estado da Cultura sobre o tema, que respondeu que “o ICA não pediu, no ano de 2016, a qualquer produtor que adiasse rodagens por não poder cumprir os contratos”. A APCA não identifica, no momento, atrasos ou paralisação da produção, segundo disse ao PÚBLICO a sua presidente, Pandora Cunha Telles. 

Os compromissos que o ICA diz estar em condições de cumprir até ao final de 2016 dizem respeito a projectos de 2010, 2014, 2015 e 2016, indicou o instituto, e abrangem um “total já comprometido de 2,8 milhões de euros” para vários sectores, que têm por seu turno um valor global de 18,4 milhões. O ICA detalha também que “o saldo de gerência transitado de 2015 que não foi utilizado em 2016 corresponde a 10,878 milhões de euros”. 

Os concursos de apoio de 2017 não vão abrir no prazo devido às alterações em curso à Lei do Cinema, algo que a APCA critica. Miguel Honrado prometeu há dois meses que está a fazer "todos os esforços para que os concursos abram no primeiro trimestre" do próximo ano.

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