Gruta de Altamira reabre ao público já depois da Páscoa

Decisão contraria posição de peritos mas apoia-se em estudo que indica que o ser humano não é um perigo para as importantes gravuras rupestres.

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Detalhe da réplica de Altamira na localidade de Santillana del Mar ESTEBAN COBO
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Detalhe da réplica de Altamira na localidade de Santillana del Mar ESTEBAN COBO
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Detalhe da réplica de Altamira na localidade de Santillana del Mar Pedro A. Saura
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Imagens de arquivo do interior da gruta DR

A polémica não demoveu as autoridades espanholas e a gruta de Altamira vai mesmo reabrir ao público, já depois da Páscoa, para mostrar um dos monumentos paleolíticos mais importantes do mundo a grupos semanais de cinco pessoas. A decisão foi tomada ao final desta tarde na reunião do Patronato de Altamira e transformou-a na única importante gruta pré-histórica aberta ao turismo em toda a Europa.

Com par apenas no sítio arqueológico de Lascaux e Chauvet, em França, Altamira, que fica no norte de Espanha na região da Cantábria, tinha o seu destino por decidir depois de ter estado encerrada cerca de uma década. E de ter sido reaberta no último ano para o que foi chamado um “período experimental” em que se realizavam visitas de cinco pessoas, que obtinham ingresso por sorteio e eram acompanhadas por um guia todas as sextas-feiras. A última dessas visitas realizou-se no final de Fevereiro, estando então pendente a decisão sobre se as grutas voltariam a ficar encerradas para fins de conservação ou se reabririam para os turistas.  

A decisão, unânime, foi assim no sentido de reabertura, mantendo um modelo similar ao do período de testes. Isto uma semana e meia depois de se ter tornado pública uma carta enviada à UNESCO – que classificou Altamira em 1985 como Património da Humanidade - por um grupo de académicos espanhóis que se opõe à reabertura da gruta e suas gravuras pré-históricas e que gerou polémica.

Os peritos da Universidade Complutense de Madrid argumentavam que a presença regular de pessoas em Altamira “põe em perigo um legado frágil” e acusavam o poder político de ceder à “pressão política e posições eleitoralistas”. Esses peritos foram secundados pelos 70 investigadores do reputado Instituto de História do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) espanhol que já em 2009 tinha produzido um estudo, compilado ao longo de 12 anos, em que alertava que já tinham sido ultrapassados todos os limiares do risco de perda das gravuras em Altamira. Outros peritos mundiais em Pré-História concordam com os académicos espanhóis, temendo que os danos que se venham a produzir só sejam visíveis dentro de anos, como foi o caso de Lascaux em que as gravuras rupestres estiveram em vias de desaparecer.

Como avança a imprensa espanhola, o esquema será agora o seguinte: uma vez por semana, cinco pessoas poderão entrar na gruta e lá permanecer, com dois guias, durante 37 minutos. A experiência tornar-se-á regra e, descreve o diário El País, as visitas serão “controladas e muito regradas”. A gruta continuará a ser estudada, estando reservados para investigação períodos mais alargados.

Na reunião do Patronato de Altamira, que integra representantes do governo regional da Cantábria, do governo espanhol e do museu de arqueologia e da universidade cantábricos, esta decisão foi justificada por um estudo de conservação feito nos últimos dois anos a pedido do Ministério da Cultura e que concluiu que a presença humana no interior da gruta não é “significativa” para a preservação das suas gravuras.

Descobertas em 1879, as grutas que contêm imagens de arte rupestre do Paleolítico estiveram abertas ao público desde 1985 (tinham fechado antes entre 1977 e 82), e têm pinturas na rocha com mais de 15 mil anos que representam animais vários (bisontes, cavalos, veados) e símbolos. Atraíram durante décadas milhares de turistas e visitantes – segundo a agência de notícias espanhola EFE, a cadência era de 175 mil visitas por ano. No período experimental que decorreu de Fevereiro de 2014 a Fevereiro de 2015, 250 pessoas entraram na gruta.

O encerramento em 2002 deveu-se ao risco das mudanças na atmosfera da gruta e que criariam condições para a propagação de microorganismos que se alimentam da luz e que podem ser prejudiciais à conservação das pinturas. O plano de conservação que serviu de base a esta decisão indica agora que a deterioração das pinturas se deve a causas naturais, relata o El País. Em resposta à carta dos académicos, a tutela espanhola enviou a sua própria missiva à UNESCO em que revela que o estudo mais recente concluiu que a principal ameaça à preservação das gravuras é “a lavagem da superfície das pinturas pela água que goteja continuamente no interior da gruta”. 

Tanto Lascaux quanto Chauvet não estão abertas ao público e tal como Altamira desenvolveu desde 2002, dispõem de réplicas nas imediações dos respectivos sítios arqueológicos para os visitantes. 

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