Golpada Americana vence nas contas de uns Globos de Ouro pulverizados

12 Anos Escravo é o melhor drama, Gravidade tem o melhor realizador e os actores interpretaram seropositivos, burlões, corretores bolsistas e mulheres intragáveis.

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Jennifer Lawrence venceu prémio de melhor actriz secundária REUTERS/Lucy Nicholson
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Golpada Americana foi o grande vencedor da noite Kevin Winter/Getty Images/AFP
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12 Anos Escravo, de Steve McQueen, foi premiado como melhor drama REUTERS/Lucy Nicholson
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Alfonso Cuaron com o Globo de Ouro de melhor realizador, pelo seu filme Gravidade REUTERS/Lucy Nicholson
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O prémio de melhor actor de drama foi para Matthew McConaughey REUTERS/Lucy Nicholson
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Cate Blanchett distinguida como melhor actriz em drama, pela sua interpretação em Blue Jasmine REUTERS/Lucy Nicholson
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Michael Douglas recebeu o prémio de melhor actor de mini-série/telefilme, com o seu papel em Por Detrás do Candelabro AFP PHOTO / Robyn BECK
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Andy Samberg venceu na categoria de melhor actor de série de comédia, pelo seu papel em Brooklyn Nine-Nine AFP PHOTO / Robyn BECK

Os cerca de 90 votantes dos Globos de Ouro, a associação de jornalistas estrangeiros com base em Hollywood, distribuíram os prémios pelas várias estrelas que convidaram para uma festa de domingo à noite. Sem surpresas, os favoritos da aritmética, os mais nomeados 12 Anos Escravo e Golpada Americana venceram o prémio de melhor filme dramático e o de melhor filme de comédia, respectivamente, mas foi este último que ganhou no final das contas – os prémios para as suas actrizes, Amy Adams e Jennifer Lawrence, deram-lhe o maior número de Globos da cerimónia. Os prémios para os actores, realizadores e argumentos preencheram o puzzle variado de uma noite que tocou a quase todos.

Com os habituais momentos de descontracção que caracterizam o evento, os 71.ºs Globos de Ouro tiveram aspersores a molhar a passadeira vermelha, piadas das anfitriãs Amy Poehler e Tina Fey sobre Justin Bieber ou sobre como George Clooney preferiu flutuar no espaço "do que passar mais tempo com uma mulher da sua idade", uma Jacqueline Bisset entaramelada e Emma Thompson de saltos altos na mão, copo na outra, a apresentar o prémio de melhor argumento – que iria para Spike Jonze pelo filme Her, em que Joaquin Phoenix se apaixona pela voz do seu sistema operativo digital e que se estreia em Portugal a 30 de Janeiro.

É que se os Globos à distância funcionam como o verdadeiro pontapé de saída para a temporada de prémios de Hollywood, à lupa revelam objectivos sobretudo promocionais tanto para as estrelas quanto para a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood – e gostam de ser descritos como um jantar borbulhante, recheado de muitas estrelas, que acaba por nomear sempre para garantir uma noite cintilante. (Vejam-se alguns pontos negros no currículo dos Globos, como as nomeações para o olvidável O Turista, que levou Angelina Jolie e Johnny Depp ao evento para serem alvo do apresentador dessa edição, Ricky Gervais, ou distinções mais datadas, como o prémio de nova estrela dado a Pia Zadora em 1981.)

Numa noite de buffet e que os críticos sublinham que acontece num ano particularmente suculento na qualidade dos seus filmes, os prémios foram então espalhados pelas várias mesas da cerimónia: Golpada Americana, o filme de David O. Russell sobre um grupo de burlões e a operação do FBI que os tenta armadilhar, sai como vencedor, mas o facto de a Associação de Imprensa Estrangeira dividir as categorias entre drama e comédia/musical permite dar também um troféu a Steve McQueen por 12 Anos Escravo, um dos grandes favoritos da temporada. Cada um dos dois filmes estava nomeado em sete categorias. “Estou um pouco em choque”, disse o realizador britânico sobre o prémio de melhor drama para o seu filme sobre um negro livre que é raptado e tornado escravo, “não estava à espera”. Mas o prémio de melhor realizador foi para o mexicano Alfonso Cuarón por Gravidade, o único Globo para outro dos filmes mais nomeados e distinguidos nesta época de prémios.

Tal como não se esperava que Woody Allen estivesse no Hotel Beverly Hilton para receber o seu Prémio Cecil B. DeMille de carreira (foi recebido pela sua amiga e eterna Annie Hall, Diane Keaton), não foi surpresa quando Cate Blanchett recebeu o prémio de melhor actriz dramática pelo último filme do realizador, Blue Jasmine. E se Amy Adams recebeu o seu primeiro Globo pelo protagonismo em Golpada Americana (estreia-se dia 23 em Portugal) batendo nomeadas como Meryl Streep (August: Osage County – Um Quente Agosto), Leonardo DiCaprio recebeu o seu primeiro Globo por uma comédia com O Lobo de Wall Street, o seu quinto filme realizado por Martin Scorsese. E não escondeu a ironia misturada com surpresa – “Nunca adivinharia que ganharia [o Globo] de melhor actor numa comédia” – por competir com outros “cómicos” como Christian Bale, nomeado na mesma categoria, mas por Golpada Americana.

Primeiros troféus para McConaughey e Leto
Os papéis fisicamente transformadores de Matthew McConaughey e Jared Leto, protagonista e actor secundário, respectivamente, em O Clube de Dallas (estreia-se esta semana, dia 16, em Portugal), uma história sobre a sida nos anos 1980, deram-lhes os Globos na secção dramática, os seus primeiros troféus nessas categorias. Se o prémio para Leto, que não fazia um filme há seis anos, era esperado, entre os protagonistas estavam Robert Redford (All Is Lost) ou Tom Hanks (Capitão Phillips), estrelas muito cortejadas pelos Globos, o que tornou a vitória de McConaughey mais valiosa. Completamente ignorados foram Nebraska, Filomena (de Stephen Frears, e que se estreia a 6 de Fevereiro em Portugal), Capitão Phillips e August: Osage County – Um Quente Agosto (estreia-se a 27 de Fevereiro).

O melhor filme de animação foi Frozen: O Reino do Gelo, e o melhor estrangeiro foi A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino (já consagrado nos Prémios do Cinema Europeu como Filme do Ano, Melhor Realizador, Melhor Actor e com estreia em Portugal marcada para 20 de Fevereiro), um dos nove finalistas para a mesma categoria nos Óscares – cujas nomeações são conhecidas esta quinta-feira.

A busca nos Globos de Ouro por indicadores para a noite que mais interessa, a de 2 de Março, é uma constante. No ano passado, por exemplo, Argo venceu o Globo de melhor filme dramático e o seu realizador, Ben Affleck, não estava nomeado para o Óscar de Melhor Realizador. O efeito dos Globos de Ouro, que em 2013 foram entregues já depois de serem conhecidas as nomeações para os Óscares (este ano são anunciadas depois, na quinta-feira dia 16), foi um ingrediente fundamental na narrativa sobre o filme de um comeback kid que não fora reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Argo acabaria por ganhar o Óscar de Melhor Filme.

Nomeações para os Óscares
A real força dos Globos sente-se na frente promocional, porque não só permite fazer novos cartazes com prémios dourados para os filmes vencedores, como prolongar a estadia de alguns filmes nas salas – em Portugal, o início do ano é forte em estreias dos filmes oscarizáveis, com alguns dos títulos mais referidos a estrearem-se até finais de Fevereiro para tentar capitalizar o buzz dos Óscares. E note-se que se os Globos são votados por não mais do que 90 jornalistas, na sua maioria freelancers que cobrem o sector em Hollywood, os Óscares são votados pelos pares. Por produtores, executivos de estúdios, realizadores ou actores – e estes últimos perfazem a maioria dos cerca de 6000 votantes que já escolheram quem será nomeado no dia 16 e que estará na cerimónia de Março. “Por isso, o que os membros de um destes grupos pensam não fornece necessariamente qualquer pista verdadeira sobre o que os membros do outro grupo pensam ou querem”, defende esta segunda-feira Scott Feinberg, analista de prémios de cinema da revista especializada Hollywood Reporter.

Se esta semana chegam as nomeações para os Óscares, as guildas de actores, produtores, realizadores e argumentistas têm as suas cerimónias nos dias 18, 19, 25 de Janeiro e 1 de Fevereiro, respectivamente. Os britânicos BAFTA são entregues a 16 de Fevereiro. Até Março, celebra-se então um ano rico que, depois de mais um Verão de blockbusters e superfilmes, nas suas últimas semanas viu emergir “um dilúvio de obras-primas”, como disse ao Observer Husam Sam Asi, um dos votantes dos Globos. “Uma celebração do cinema americano que não víamos há algum tempo”, acrescenta, citando como exemplos Nebraska ou 12 Anos Escravo, cujos realizadores Alexander Payne e McQueen “conseguiram fazer os seus próprios filmes e não ser ditados pelo studio system".   

Ainda quanto aos Globos, na televisão, a despedida de Breaking Bad venceu na categoria de melhor série dramática e melhor actor em drama (Bryan Cranston). O telefilme de Steven Soderbergh Por Detrás do Candelabro conquistou o galardão de melhor telefilme/mini-série, distinguindo como melhor actor Michael Douglas. O prémio de melhor série de comédia foi entregue à estreante Brooklyn Nine-Nine, com Andy Samberg a vencer também o galardão de melhor actor nesta categoria. A série de Lena Dunham, Girls, cuja terceira temporada se estreou na noite dos Globos na HBO, foi uma das derrotadas da noite. Amy Poehler passou de apresentadora para vencedora na comédia, com o seu primeiro Globo por Parks and Recreation, acompanhada por Robin Wright, distinguida pelo papel de mulher do protagonista de House of Cards, a série fenómeno do serviço de streaming Netflix, que não teve qualquer outro prémio.

Lista de vencedores:

Cinema

Melhor drama: 12 Anos Escravo

Melhor comédia/musical: Golpada Americana

Melhor realizador: Alfonso Cuaron (Gravidade)

Melhor actor de drama: Matthew McConaughey (O Clube de Dallas)

Melhor actriz de drama: Cate Blanchett (Blue Jasmine)

Melhor actor de comédia/musical: Leonardo DiCaprio (O Lobo de Wall Street)

Melhor actriz de comédia/musical: Amy Adams (Golpada Americana)

Melhor actor secundário: Jared Leto (O Clube de Dallas)

Melhor actriz secundária: Jennifer Lawrence (Golpada Americana)

Melhor filme estrangeiro: La Grande Belezza (Itália)

Melhor filme de animação: Frozen

Melhor argumento: Spike Jonze (Her)

Melhor banda sonora: Alex Ebert (All Is Lost)

Melhor música original: Ordinary Love de U2 (Mandela: Longo Caminho para a Liberdade)

Televisão:

Melhor série dramática: Breaking Bad

Melhor actor de drama: Bryan Cranston (Breaking Bad)

Melhor actriz de drama: Robin Wright (House of Cards)

Melhor série de comédia: Brooklyn Nine-Nine

Melhor actor de comédia: Andy Samberg (Brooklyn Nine-Nine)

Melhor actriz de comédia: Amy Poehler (Parks and Recreation)

Melhor minissérie/telefilme: Por Detrás do Candelabro

Melhor actor de minissérie/telefilme: Michael Douglas (Por Detrás do Candelabro)

Melhor actriz de /minissérie/telefilme: Elisabeth Moss (Top of the Lake)

Melhor actor secundário de série/mini-série/telefilme: Jon Voight (Ray Donovan)

Melhor actriz secundária de série/mini-série/telefilme: Jacqueline Bisset (Dancing on the Edge)

Prémio Carreira Cecil B. DeMille: Woody Allen
 

Notícia corrigida às 11h11, grafia da palavra "corretores"
 
 
 
 
 
 
 
 

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