Garth Risk Hallberg é a estreia literária mais aguardada dos últimos anos. Quem?

A estreia literária mais aguardada dos últimos anos: o autor recebeu dois milhões de dólares para escrever o primeiro romance. City on Fire, Cidade em Chamas na edição portuguesa, é lançado esta semana nos EUA e chega a Portugal a 10 de Novembro. Passa-se em Nova Iorque nos 70s.

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Mark Vessey

Terá sido a guerra de direitos mais disputada dos últimos anos, e seguramente a maior para um primeiro romance.

Desde que se soube que em 2011 a norte-americana Knopf pagara dois milhões de dólares antecipados a Garth Risk Hallberg, um crítico e ensaísta, pelo que na altura era apenas o projecto de um romance que a curiosidade sobre o que aí vinha disparou, com editor e autor a gerirem as atenções de forma muito discreta, deixando apenas sair o suficiente para manter o apetite bem alto. Sabia-se que o romance se chamava City on Fire, que teria cerca de mil páginas e se passava na efervescente Nova Iorque dos anos 1976 e 1977, depois de um crime e sob o efeito do célebre blackout de Julho de 1977.

A partir destes escassos detalhes anunciava-se um épico nova-iorquino, um livro que o editor que comprou os direitos para o Reino Unido - Alex Bowler, da Jonathan Cape - afirmava ser o melhor romance americano que lera profissionalmente. Dois anos depois, em 2013, surgia a notícia de que o produtor Scott Rudin (As Horas Família Adams) comprara os direitos para o cinema de um romance que ainda não existia. 

O autor, Garth Risk Hallberg, natural do Louisiana, onde nasceu em 1979, apesar de não ser um estreante nunca escrevera nada de fôlego, o que aumentava a expectativa. Além de ensaios, críticas literárias e de contos dispersos, assinara apenas uma novela gráfica em 2007, A Field Guide to the North America Family. City on Fire seria o seu primeiro romance e estava quase tudo para saber. Em 2013, a Vulture tentava traçar o melhor perfil possível do autor, juntando informações dispersas. Uma espécie de "descubra quem é" Garth Risk Hallberg em 28 tópicos. Era casado, pai de dois filhos, vivia em Brooklyn, encenara, num ensaio que publicou na Time, um diálogo entre os escritores Jeffrey Eugenides, Jonathan Franzen, Zadie Smith e David Foster Wallace baseado em supostas afinidades entre os quatro e a partir de uma conferência em que participaram em 2006 intitulada Le Conversazioni. Ainda que escreve diariamente entre as 5h30 e as 8h30 da manhã e que o primeiro esboço do romance de que se fala tinha 400 mil palavras, cerca de 1200 páginas no original inglês.

O romance está pronto, tem 900 páginas no original, e vai ser lançado na terça-feira, dia 13, na livraria Greenlight, em Brooklyn, depois de ter feito capa da mais recente edição do Sunday Book Review, do New York Times. Depois dos Estados Unidos, Inglaterra e Holanda, Portugal será o quarto país a publicar City on Fire, Cidade em Chamas, uma edição da Teorema com tradução Tânia Ganho. São mil páginas em português que vão estar à venda a partir de 10 de Novembro. Carmen Serrano, editora da Teorema, conta que comprou os direitos há dois anos, alertada para o livro por uma scout. “A tradução começou em Março. Íamos recebendo partes do romance que eram enviadas pelo editor americano à medida que iam sendo dadas como concluídas por ele e pelo autor.”         

Começa assim: “Uma árvore de Natal vinha a subir a Décima primeira Avenida. Ou melhor, a tentar subir; tendo-se emaranhado num carrinho de compras que alguém abandonara na passadeira, estremecia, eriçava-se e ofegava, prestes a pegar fogo. Ou, pelo menos, foi essa a sensação que Mercer Goodman teve, enquanto se esforçava por resgatar a coroa da árvore na grelha amolgada do carrinho. Ultimamente, tudo estava por um fio.”

É o início de um mergulho que quer abarcar a essência de um lugar e de um tempo numa experiência de leitura que – diz quem já leu – tem contágios de Charles Dickens, Don DeLillo ou Patti Smith, mas sem comprometer a identidade do autor a quem elogiam a inteligência sofisticada, a capacidade de arquitectar uma trama complexa, cheia de personagens fortes numa escrita cuidada e de enorme atenção à linguagem. Algo que põe de parte especulações iniciais sobre um eventual romance a obedecer à procura do momento: autocentrado ou com enredo distópico ou ainda a piscar o olho a vampiros que têm estado entre os mais vendidos por todo o mundo. “É de uma tremenda ambição”, escreve o New York Times, num romance de estreia que deixa antever um autor de “talento sem limites”.

 

 

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