Fracturas e rupturas na literatura infanto-juvenil discutem-se em Aveiro

Temas difíceis e actuais devem ou não entrar nos livros para crianças e jovens? A violência, a guerra, a sexualidade e a política merecem atenção especial no 11.º Congresso Internacional The Child and the Book, a decorrer na Universidade de Aveiro até dia 28.

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Richard Zimler é um dos participantes no congresso The Child and the Book REUTERSMiguel Vidal
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Durante três dias, de 26 a 28 de Março, a Universidade de Aveiro acolhe mais de 80 conferencistas de todo o mundo para a 11.ª edição do Congresso Internacional The Child and the Book (A Criança e o Livro). Estão representadas 40 universidades estrangeiras e oito portuguesas.

 “Queremos com este encontro reflectir sobre os temas difíceis nos livros para os mais jovens, mas também legitimar a investigação em literatura infanto-juvenil, muito pouco reconhecida em Portugal”, diz Ana Margarida Ramos, professora naquela universidade e uma das organizadoras do congresso.

Cativar investigadores para esta área do saber é outro dos propósitos de um encontro que já passou por cidades como Roehampton (Reino Unido, 2004), Antuérpia (Bélgica, 2005), Newcastle (Reino Unido, 2006), Bogaziçi (Turquia, 2007), Buffalo State College (EUA, 2008), Vancouver (Canadá, 2009), Oslo (Noruega, 2011), Universidade Cambdrige (Reino Unido, 2012), Pádua (Itália, 2013) e Atenas (Grécia, 2014).

“Conseguimos ter aqui em Aveiro uma diversidade de investigadores de vários níveis e com experiências muito diferentes, desde jovens estudantes de mestrado a professores jubilados e no topo da carreira. Também há participantes em doutoramento e pós-doutoramento”, diz entusiasmada a professora de Literatura para a Infância e de Literatura e Formação de Leitores.

Essa “vitalidade” da investigação na literatura infanto-juvenil dá-lhe “esperança” de que se olhe de outra forma em Portugal para este universo. E alerta: “Contam-se pelos dedos as bolsas que a FCT [Fundação para a Ciência e Tecnologia] atribui neste domínio.”

Entre os convidados, estão importantes especialistas em literatura para crianças e jovens: David Rudd (Universidade de Roehampton, Reino Unido), Hans-Heino Ewers (Univ. Goethe de Frankfurt am Main, RFA), Sandra Beckett (Univ. Brock, Canadá) e Åse Marie Ommundsen (Univ. de Oslo, Noruega).

Da parte de Portugal, a Universidade de Aveiro quis também convidar escritores e ilustradores que se têm destacado, como Ana Saldanha, Richard Zimler, Madalena Matoso e Isabel Minhós Martins.

The Child and the Book “é um fórum privilegiado de diálogo entre especialistas seniores e investigadores mais novos”, segundo os organizadores, o Centro de Investigação em Didáctica e Tecnologia na Formação de Formadores e o Centro de Línguas, Literaturas e Culturas.

Ana Margarida Ramos disse ao PÚBLICO estar satisfeita com as comunicações e informou que uma selecção dos melhores textos será editada pela Cambridge Scholars Publishing Ltd. “Foi a editora que veio ter connosco e nos propôs a edição. Ficámos muito contentes”, conta.

Na justificação do tema para este 11.º congresso, explica-se que “fractura e ruptura podem também ser vistas de uma perspectiva genológica, ou estilístico-formal, em ligação com obras que flagrantemente desafiam a norma e que se podem mesmo situar na vanguarda da produção literária. Outras aproximações a questões de fractura e ruptura na literatura infanto-juvenil, em especial nas áreas de recepção, de educação, da tradução, da ilustração e da edição serão igualmente consideradas”.

Pretende-se ainda dar conta da ausência dos temas ditos “difíceis” nas selecções que norteiam os currículos escolares, pautados “por algum conservadorismo e desfasamento em relação à evolução social”. Por isso se desafiou “os investigadores a explicarem este desencontro ou apontarem sugestões para a sua mitigação”.

Durante o congresso, poderá visitar-se no átrio da livraria da universidade uma exposição de livros de autores portugueses traduzidos para outras línguas: Portuguese Authors Translated: a show of books (da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Secretaria de Estado da Cultura).

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