A edição de fotolivros em Portugal vive um bom momento. Nos últimos anos, o aparecimento de obras de qualidade deixou de ser uma raridade e ainda que não se tenha tornado uma rotina passou a estar cada vez mais presente. Esse despertar tem sido notado em Portugal (com novas editoras, cada vez mais fotógrafos a apostar em edições de autor, feiras especializadas…), mas também começa a dar frutos além-fronteiras. O espaço Le Bal, em Paris, projecto ligado à tribo da cooperativa Magnum na capital francesa, na qual se destaca o fotógrafo Raymond Depardon, dedicará a partir desta sexta-feira três dias aos fotolivros e à fotografia portuguesa, com exposições, oficinas de fotolivros e debates.

À boleia da notoriedade conquistada por projectos do presente (como a da chancela Pierre von Kleist, que nos últimos cinco anos já fez publicar 17 livros, alguns deles já esgotados), o Le Books Weekend – Saison Portugaise, organizado em parceria com a Fundação Gulbenkian Paris e o Kassel Photobook Festival, um dos encontros mais importantes do mundo da área da edição ligada à imagem fotográfica, mostrará também algumas pérolas publicadas há mais tempo. A colecção da Fundação Gulbenkian, talvez uma das mais importantes e completas do país nesta área de edição, será a fonte desta exposição que dará destaque a alguns dos títulos mais relevantes para a história dos fotolivros portugueses, com obras de autores como Paulo Nozolino, Jorge Guerra, Artur Pastor, entre outros.

Hoje, a iniciativa arranca com a oficina de edição de livros de fotografia, para a qual foram convidados André Cepeda, José Pedro Cortes, António Júlio Duarte e André Príncipe. O desafio parte de uma amálgama de imagens nunca publicadas e, com a ajuda de cada um dos fotógrafos portugueses, terminará com projectos de livros que os participantes poderão levar para casa. Um dos pisos do Le Bal será inteiramente dedicado aos livros da Pierre von Kleist (que acaba de editar mais dois títulos, Tokyo Diaries, de André Príncipe, e The Club, de Pedro Letria) bem como às obras de outras editoras independentes portuguesas, como a Ghost (de David-Alexandre Guéniot e Patrícia Almeida) e a kameraphoto. Esta sexta, Guéniot apresentará ainda o projecto Souvenirs from Europe, uma instalação de posters que têm vindo a ser colados a vitrinas de lojas e galerias de várias geografias.

No sábado, Martim Ramos, fotógrafo da kameraphoto, apresenta os dez fotolivros do projecto Um Diário da República editados ao longo de 2013, que resultaram de uma estreita (e profícua) colaboração entre casas gráficas, escritores, designers e fotógrafos. Na sede da Gulbenkian Paris, Miguel von Hafe Pérez, curador e director do Centro Gallego de Arte Contemporánea, traça um percurso pela edição de fotolivros em Portugal ao longo dos últimos 50 anos. E, a terminar o dia, o crítico Philippe Azoury vai liderar uma mesa redonda onde se analisará a influência do cinema português na obra de André Cepeda, José Pedro Cortes, António Júlio Duarte e André Príncipe.

No domingo, o crítico de arte e curador Delfim Sardo abordará o actual momento da fotografia portuguesa e haverá uma leitura de portefólios na qual participarão o galerista Pedro Alfacinha, o crítico de arte Rémi Coignet, a directora do Le Bal Diane Dufur, o director do festival de Kassel Dieter Neubert, entre outros. O fim-de-semana dedicado à edição de fotolivros e à fotografia portuguesa terminará com uma visita à exposição Levante, organizada pela Pierre von Kleist a pedido da galeria 12Mail.