Júri e críticos de Locarno elogiam A Última Vez que Vi Macau

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João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata Pedro Cunha (arquivo)

O filme português A Última Vez que Vi Macau, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, recebeu uma menção especial do júri do Festival de Locarno, especialmente endereçada à “extraordinária personagem Candy, pela sua poderosa presença através da ausência”, que, diz a nota, “ressoou como representativa da imensa coragem do cinema português nestes tempos em que os falhanços dos governos ameaçam as artes cinematográficas no mundo inteiro”.

Para além deste reconhecimento oficial do colectivo presidido por Apichatpong Weerasethakul, a dupla recebeu ainda o Bocallino de Ouro na categoria de Melhor Realização, um prémio criado em 2000 e atribuído pelos jornalistas e críticos presentes no festival suíço.

A Última Vez que Vi Macau, que irá abrir, no dia 18 de Outubro, a décima edição do DocLisboa, conta a história de um homem que recebe em Lisboa um e-mail de uma amiga que não via há anos, Candy, que lhe pede que vá ter com ela a Macau, onde estão a acontecer coisas estranhas e assustadoras. Ele próprio vivera em Macau há muitos anos e ali passara os melhores tempos da sua vida, de modo que esta viagem é também um regresso às suas próprias memórias.

Para o papel de Candy, a dupla de realizadores escolheu a actriz e performer Cindy Crash, que já trabalhara com João Pedro Rodrigues no filme Morrer como Um Homem, de 2009. Numa entrevista ao DN, os autores de A Última Vez que Vi Macau assumem que o nome da protagonista alude deliberadamente à célebre actriz transexual dos filmes de Andy Warhol, Candy Darling (1944-1974), que foi também uma das musas da banda Velvet Underground.

Memória e ficção

Tal como o protagonista do filme, também João Rui Guerra da Mata deixou Macau há 30 anos e nunca mais lá tinha voltado antes de resolver avançar com este projecto, que começou por ser pensado como um documentário. Os dois cineastas trouxeram 150 horas de material filmado e acabaram por decidir fazer uma longa-metragem de ficção com enredo criminal que presta homenagem ao clássico Macao (1952), de Joseph von Sternberg, com Robert Mitchum e Jane Russell. Na referida entrevista, Guerra da Mata conta que num dos primeiros planos da obra de Von Sternberg aparece um palacete numa colina, "hoje tapado pelos prédios modernos", que é a casa onde ele próprio viveu em Macau, o que pode funcionar como símbolo do modo como este filme cruza memórias do cinema e recordações pessoais.

Além de A Última Vez que Vi Macau, que teve a sua estreia mundial em Locarno, o festival suíço exibiu uma curta-metragem de João Rui Guerra da Mata, O que Arde Cura, que recebeu o prémio Legendagem de Filme e Vídeo, galardão que assegura a legendagem do filme em três línguas europeias. Na secção de curtas-metragens passou ainda um terceiro filme português, Zwazo, de Gabriel Abrantes.

O prémio especial do júri de Locarno foi atribuído a Somebody Up There Likes Me, do norte-americano Bob Byington, e o chinês Ying Liang recebeu o Leopardo, prémio para a melhor realização, pelo seu filme When Night Falls. O mesmo filme conseguiu ainda o prémio para a melhor actriz, atribuído a Na Nai. Já o prémio para o melhor actor foi entregue a Walter Saabel, pela sua interpretação no filme austríaco Der Glanz der Tages [O Brilho do Dia], de Tizza Covi e Rainer Frimmel. O filme Ape valeu ainda a Joel Potrykus (Estados Unidos) o prémio para o melhor realizador emergente.

Notícia substituída às 13h01 de 13/08/12
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