Sundance lançou candidatos ao Óscar e pede agora "diversidade"

O festival de cinema independente já começou nos EUA com a lembrança do Charlie Hebdo e a promessa de "muitos filmes que vão chatear outras pessoas".

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Jim Urquhart/REUTERS

Se os Óscares deste ano estão povoados pela nação indie que no ano passado ferveu em Sundance, a edição deste ano — a 31.ª — do festival de cinema lançado por Robert Redford tem o quê ao lume? O festival arrancou esta quinta-feira com mais uma defesa da liberdade de expressão em honra das vítimas dos ataques de Paris e com uma constatação: a de de que Sundance pode e tem de originar “mudança” e de que a televisão está muito mais à frente que o cinema.

Depois de Boyhood e Whiplash se terem estreado no ano passado em Sundance e agora estarem nomeados para o Óscar de Melhor Filme, este ano há cerca de 200 novos filmes para ver ao longo de 11 dias. Tudo acontece na estância de montanha de Park City, no Utah, que todos os anos por esta altura ganha habitantes célebres e menos célebres, assiste ao lançar de carreiras e a um frenesim mediático crescente, bem como à concretização de negócios algo que este ano está já a correr bem, apesar de ainda nem se terem cumprido as primeiras 24 horas do evento.

Três filmes marcaram a abertura do festival: dois documentários, What happened, miss Simone?, sobre a cantora de jazz Nina Simone, e How to change the world, sobre as raízes da Greenpeace, e a comédia The bronze, sobre uma antiga campeã de ginástica. Aguardam-se ainda títulos que podem gerar alguma polémica, desde filmes sobre a Igreja da Cientologia (Going clear) ou sobre o líder mórmon Warren Jeffs (Prophet’s Prey) a relações amorosas entre adolescentes e adultos (Diary of a Teenage Girl), sobre experiências psiquiátricas prisionais (Stanford Prison Experiment), violações na universidade (The Hunting Ground, um tema quente nos últimos meses nos EUA) ou a história verídica de um homossexual activista LGBT que decide contrariar a sua orientação sexual ajudado pela religião (I am Michael). Há ainda Ewan McGregor como Jesus e Diabo no mesmo filme, Last days in the desert, o actor cómico Jason Segel na pele do escritor David Foster Wallace (The End of the Tour) e a muito aguardada estreia do biopic sobre Kurt Cobain, Kurt Cobain: Montage of Heck.

É o território habitual de Sundance, em que se misturam blockbusters que nasceram com cineastas independentes como George Lucas e novos rostos omnipresentes em quase todas as plataformas como Lena Dunham ou Mindy Kaling, músicos como Scott Weiland ou Iggy Azalea, novos filmes de Lily Tomlin (Grandma, o filme de encerramento) e Noah Baumbach (Mistress America) ou do actor cómico Jack Black. A programação completa pode ser consultada aqui

“Vão ver aqui muitos filmes que vão chatear outras pessoas, mas isso não é grave — é a diversidade.” Na conferência de imprensa inicial do festival baptizado em honra do western Butch Cassidy and the Sundance Kid (Dois Homens e Um Destino), Robert Redford lembrou assim que nestes 31 anos de história do evento a ideia sempre foi “usar a mudança para sublinhar a diversidade. A diversidade é algo que acredito que move as coisas”, disse. “A mudança é inevitável.”  

Os atentados de Paris, primeiro contra o semanário satírico Charlie Hebdo e depois numa mercearia judaica, foram para o fundador do festival um “sinal de alarme” para a liberdade de expressão, cita a AFP. “Para ser muito claro, acredito que há um ataque à liberdade de expressão em vários locais, não é exclusivo de Paris.” 

No ano em que o seu regresso ao ecrã como actor em A Walk in the Woods vai passar também por Sundance — "é muito estranho", adimitiu, ter um filme seu no seu festival —, Redford foi questionado sobre as diferenças entre a indústria cinematográfica e televisiva. E postulou que "o cinema mainstream está a encolher; é cada vez mais difícil para um artista encontrar o seu caminho no negócio do cinema", acrescentando que "a televisão está a avançar muito mais depressa do que os grandes filmes".  

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