Fernando Meirelles rendido às "novas possibilidades" da televisão

Realizador brasileiro integra o júri do Festival Internacional de Cinema de Pequim.

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Fernando Meirelles em Lisboa, em 2008, ano da estreia de Ana Ramalho

O cineasta brasileiro Fernando Meirelles, autor de Cidade de Deus e outros filmes de sucesso, está a preparar para a BBC "uma série sobre ambiente e aquecimento global", que incluirá um episódio rodado na China.

"Estou ainda a escrever o guião, mas talvez no próximo ano já esteja aqui a pesquisar locais para filmar. Num tema como este, não dá para deixar a China de fora", adiantou o realizador à agência Lusa, em Pequim.

Fernando Meirelles integra o júri do 5.º Festival Internacional de Cinema de Pequim, que decorre até quinta-feira com mais de 300 filmes de cerca de 50 países, e cujo programa inclui, pela primeira vez, uma semana dedicada ao Brasil.

O realizador revelou também que tem um projecto de televisão de oito episódios para um produtor canadiano e está a desenvolver duas novas séries no Brasil.

"Não direi que o melhor cinema se faz hoje na televisão, mas, de facto, o filme de autor está cada vez mais inviável e com menos espaço. Só existe mercado para blockbusters, para filme que é um evento", disse.

O realizador apontou "uma razão técnica" para o actual boom das séries televisivas: "A televisão, hoje, é filmada com o mesmo equipamento do cinema e, em casa, a gente tem aparelhos de TV com qualidade de imagem muito boa". "Há dez anos, a televisão baseava-se no diálogo e no close-up dos actores. Fazia-se um plano aberto e não se via nada. Hoje, já não é assim", acrescentou Fernando Meirelles.

Além disso, "o tempo, na televisão, é diferente". "Podemos contar uma história em seis, oito ou até doze horas, o que muda completamente a estrutura narrativa e dá outro tipo de envolvimento com os personagens. É isso que me fascina", revelou.

O "fascínio" de Meirelles pelas "novas dramaturgias" proporcionadas pela televisão coincide, contudo, com "um movimento de renascimento do cinema" no Brasil. "Finalmente, o mercado está começando a aceitar o cinema brasileiro", salientou o realizador numa conferência de imprensa em Pequim.

Segundo referiu, os filmes brasileiros já representam "15 a 20%" do mercado cinematográfico local, enquanto na década de 1980 a percentagem era de apenas "1 ou 2%".

Sobre a situação política e económica no seu país, o cineasta afirmou à Lusa que o Brasil "não está num bom momento e precisa sair rapidamente desta crise". E considerou a China um parceiro "fundamental" para o Brasil, atribuindo àquele país o sucesso económico da década passada: "A China fez crescer o preço das coisas que o Brasil vende", nomeadamente soja e ferro. "Sobrou dinheiro e uma parte da população virou classe média. Depois da crise de 2008, os preços das matérias-primas caíram e o Brasil está de novo sem dinheiro", observou.

Fernando Meirelles, 60 anos, formado em Arquitectura e Urbanismo, iniciou-se no cinema na década de 1990. O seu filme mais conhecido, Cidade de Deus, valeu-lhe uma nomeação para o Óscar de Melhor Realizador, em 2004. Realizou também Blindness, uma adaptação do romance de José Saramago Ensaio sobre a Cegueira, com Julianne Moore e Mark Ruffalo nos principais papéis, e O Fiel Jardineiro, adaptado de um livro de John le Carré, com Ralph Fienes e Rachel Weisz.

Foi o primeiro cineasta brasileiro convidado para o júri do Festival de Cinema Internacional de Pequim, presidido este ano pelo realizador francês Luc Besson. Entre os quinze filmes seleccionados para a secção competitiva do certame figuram a co-produção sino-francesa Wolf Tottem, dirigida por Jean-Jacques Arnaud, e The Taking of Tiger Moutain, do chinês Hank Tsui.

 

 

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