Faltam dois anos

Hoje, em 2015, o compositor Adoniran Barbosa vai mais ao encontro das pretensões globais da Google.

Na quinta-feira, a Google celebrou os 105 anos de Adoniran Barbosa, o compositor e letrista brasileiro que levou, sem corrigir nem embelezar, a língua dos pobres de São Paulo para sambas imortais como "Trem das Onze", "Saudosa Maloca", "Tiro ao Álvaro", "Samba do Arnesto" e "Samba Italiano".

Conhecemo-lo graças à clarividência de Elis Regina, que, tal como ele, morreu em 1982. Procure-os no YouTube que se vai tornando, esquecendo a rasquice do som, na grande discoteca celeste que nunca existiu.

Elis Regina morreu com 36 anos e João Rubinato (o nome verdadeiro de Adoniran Barbosa, filho de imigrantes italianos do Veneto) com 72 anos: o dobro. Ele morreu pobre e pouco reconhecido. Ela morreu rica e reconhecida mas à beira de se ter tornado cada vez melhor; pelo menos vinte vezes depois.

Hoje, em 2015, o compositor Adoniran Barbosa, que Elis Regina promoveu de coração inteiro (ao contrário de snobs e letristas de apartamento e de embaixada como Vinicíus de Moraes), vai mais ao encontro das pretensões globais da Google.

Vá ao YouTube ver o excelente Programa Ensaio (de 1972) sobre Adoniran Barbosa. Aí aprenderá, logo no princípio, que ele não nasceu em 1910 mas em 1912. Só em 2017 é que a Google (se é que segue os ensinamentos da dita world wide web) poderá, caso ainda queira, festejar os 105 anos do grande, grande compositor.

Faltam dois anos. Mas sabe bem, no caso de um tão bom compositor, pensar duas vezes. Pelo menos. E para sempre.

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