Rui Lopes é um fagotista português, natural de Santa Maria da Feira, formado pela Escola Superior de Música do Porto e pela Academia de Música de Basel. Reside na Suíça e é um solista com uma destacada carreira a nível internacional no domínio da música de câmara. Em Portugal, venceu o Concurso do Estoril, mas conquistou igualmente certames internacionais. Um casal de mecenas viu-o em concerto, gostou do que ouviu e fez-lhe o convite para gravar o que quisesse, com a orquestra que desejasse e a equipa técnica que escolhesse. O resultado é Through Time, um CD com música de Villa-Lobos, Jean Françaix, Mozart, Vivaldi e Elgar, onde Rui Lopes é acompanhado pela English Chamber Orchestra, a orquestra de câmara com mais gravações a nível mundial e que, sob a direcção do seu concertino Stephanie Gonley, prescinde de maestro. Destaca-se a escolha de um belíssimo repertório com obras muito variadas e que dão a conhecer o instrumento em toda a sua riqueza sonora. Rui Lopes é, pois, um mestre do instrumento mais grave das madeiras e a sua escolha merece um louvor. 

Da selecção fazem parte duas obras maiores do repertório, nomeadamente o Concerto em Si bemol de Mozart e o Divertimento de Jean Françaix. Mas esta segunda obra merece ampla atenção, pois trata-se da sua primeira gravação mundial na versão para orquestra de cordas. É verdade, custa a crer, mas ainda não tinha sido gravada na versão original. Um concerto de Vivaldi em Dó maior, que abre com um recitativo do fagote impondo a marca de originalidade de toda a obra, é muito rico no seu esquisito contraponto. Tipicamente vivaldiano, este é um concerto virtuoso, intensamente expressivo e surpreendente, onde Rui Lopes é particularmente eloquente. O Romance op.62 de Elgar e uma Ciranda de Villa-Lobos constituem adições bem interessantes, sendo reveladoras da capacidade expressiva do instrumento e da sua curiosa fusão com as cordas.

Superlativamente acompanhado pela English Chamber Orchestra, Rui Lopes tem neste CD muito bem gravado um feliz testemunho da sua arte.