O disco enquanto filme

A sua modéstia de monografia parece tolher os movimentos ao filme, mesmo que confirme que o documentário é a verdadeira força do realizador.

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O encontro entre Camané e Bruno de Almeida é daquelas coisas que parecem destinadas a acontecer – a música de um e o cinema do outro transportam uma intangível e indefinível melancolia que não se explica apenas pelo fado ou por Lisboa, mas que passa pela vontade de eternizar um momento numa canção ou numa imagem que toque as pessoas e não se perca no tempo.

Fado Camané tem um inevitável olhar de cinema sobre as gravações de um álbum de Camané – a câmara está sempre à procura dos olhos, dos rostos, dos corpos, das cumplicidades, desenha com elegância a teia de amizades e relações entre os músicos, sugere algo de “filme sobre o filme” à medida que o trabalho de Camané e José Mário Branco se desenha como a relação entre um actor e um realizador, se quisermos. Mas não consegue, nunca, evitar a sensação desagradável de estarmos perante um “extra de DVD” ou de um bónus para um disco ampliado para grande ecrã; a sua modéstia de monografia cúmplice parece tolher-lhe os movimentos, mesmo que confirme que o documentário é a verdadeira força do realizador. 

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