Exercício de género

Aquilo que faz a diferença do filme de Diao Yi’nan é o exotismo da origem – não fosse chinês e olharíamos para ele como um exercício de género, desenvolto mas anónimo.

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A terceira longa-metragem de Diao Yi’nan (cujo anterior Night Train chegou a estar a concurso no IndieLisboa) venceu o Urso de Ouro em Berlim 2014 e tornou-se num dos filmes internacionalmente mais unânimes que o cinema chinês lançou recentemente. E fê-lo adaptando à realidade chinesa um “género” tradicionalmente ocidental, o policial negro, cujas “regras” são rigorosamente respeitadas: um ex-detective que se afastou da polícia, um crime por resolver que atravessa os anos, uma mulher potencialmente fatal, uma investigação onde nada parece o que realmente é.

A “piada” de Carvão Negro, Gelo Fino está no modo como a própria rápida evolução da sociedade chinesa é espelhada no processo de investigação e resolução do crime – e, na melhor tradição do filme negro, mais do que saber “quem cometeu”, o que importa são os segredos e as mentiras que vêm ao de cima enquanto se investiga. Mas a verdade é que aquilo que faz a diferença do filme de Diao Yi’nan é mesmo o exotismo da origem – não fosse chinês e seguramente olharíamos para ele como um simples e eficaz exercício de género, desenvolto mas anónimo.

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