Estará Heféstion, companheiro de Alexandre, o Grande, sepultado em Anfípolis?

Pensava-se que o grande templo funerário escavado em Anfípolis guardava os restos mortais de Olímpia ou Roxana, respectivamente mãe e mulher de Alexandre. Esta quarta-feira apontou-se noutra direcção: os arqueólogos crêem ter sido erguido em homenagem a Heféstion.

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Um dos mosaicos descobertos em Anfípolis DR

Foi escavado em 2012 e aberto no último Verão, 13 séculos depois de a cidade em que foi instalado ter sido abandonada. Anfípolis era uma cidade grega, a 100 quilómetros de Tessalónica, e foi nela que Alexandre, o Grande erigiu aquele que é o maior templo funerário descoberto em território grego. Especulava-se que teria sido construído em honra da sua mãe, Olímpia, ou da sua mulher, Roxana.

Esta quinta-feira, porém, Katerina Peristeri, arqueóloga chefe das escavações, apontou noutra direcção. “Supomos que se trata de um templo funerário dedicado a Heféstion”, companheiro inseparável de Alexandre, declarou em conferência de imprensa.

No interior foram encontrados os restos mortais de uma mulher idosa, as ossadas de dois homens, de um recém-nascido ou de um cavalo. Nenhum deles corresponde, naturalmente, a Heféstion, e Peristeri afirmou não estar certa que o mesmo esteja ali enterrado, mas a descoberta no interior de três inscrições com a palavra “parelavon” (recebido) e o monograma de Heféstion, conduziram à suposição de que o gigantesco complexo, com 500 metros de diâmetro e escavado numa colina de 30 metros, seria dedicado ao fiel companheiro do mítico rei macedónio.

Apesar da contestação de alguns arqueólogos, que defendem que a tumba foi construída já durante o período romano, Katerina Peristeri afirma que aquela foi erigida algures entre 325 e 300 a.C., num período em que Anfípolis era uma cidade de relevo no reino macedónio que Alexandre estendeu do Egipto à Índia.

O túmulo em Anfípolis será, então, um dos muitos que Alexandre ordenou que o seu arquitecto, Dinócrates, projectasse por todo o império quando da morte de Heféstion em Ecbatana, no Irão, segundo descrito por Plutarco, o grande historiador da Antiguidade. No interior do complexo foram descobertas várias divisões ricamente decoradas com esculturas de esfinges e cariátides, bem como diversos mosaicos e moedas com o rosto de Alexandre.

Heféstion foi o amigo mais próximo de Alexandre. Filho da aristocracia macedónia, cresceu próximo do futuro imperador e tornar-se-ia, não só um dos seus generais, guarda-costas e diplomatas mais distintos, mas também o seu confidente, numa relação que se prolongou até ao final da sua vida e que foi comparada à de Aquiles e de Pátroclo, personagens centrais da Ilíada de Homero.

A natureza amorosa da relação entre Alexandre e Heféstion é parte integrante da mitologia envolvendo o grande Imperador. Em 2004, Oliver Stone tornou-a central no seu filme Alexandre, O Grande, apresentando os dois como amantes. Na altura, numa reportagem do Ípsilon dedicada ao filme, o historiador Nuno Simões Rodrigues, afirmou que “Heféstion é o grande amor [de Alexandre], Roxana uma aliança política, Bagoas [o eunuco do imperador persa Dario, que Alexandre resgatou para si após derrotar aquele] o objecto sexual”. Esclareceu ainda que “na Grécia a sexualidade não se definia como hetero-homo-bi, mas numa relação entre dominador – o amante ou ‘erastes’ – e um dominado – o amado ou ‘eromenos’ –, fosse ele do mesmo sexo ou não”.

Nos próximos tempos, pode ser confirmado que é em Anfípolis que está sepultado Heféstion. Quanto aos restos mortais de Alexandre, continuarão, de forma intrigante, em parte incerta. Morreu na Babilónia em 323 a.C., aos 32 anos e diz-se que o seu corpo terá sido levado por Ptolomeu até Alexandria, a cidade que fundara no Egipto e em que terá sido sepultado. Onde exactamente? O mistério permanece até hoje.

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