Empresa de Singapura compra 49% da Rolling Stone

Ainda a recuperar do escândalo de uma falsa reportagem sobre uma violação em grupo na Universidade da Virgínia, a icónica revista de música tenta agora expandir-se na Ásia.

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A Wenner Media, proprietária da Rolling Stone, uma das mais antigas e icónicas publicações no domínio da música popular, vai vender 49% da revista a uma empresa sediada em Singapura, a BandLab Technologies, fundada e dirigida por Meng Ru Kuok, filho do bilionário Kuok Khoon Hong, que fez fortuna a vender óleo de palma.

“Estamos todos a tentar descobrir um novo modelo de negócio”, afirmou ao Wall Street Journal o responsável pelo sector digital, vendas e marketing na Wenner Media, Gus Wenner, de 26 anos, filho de um dos fundadores e editores da Rolling Stone, Jann Wenner. “Nós temos a caracaterística que mais importa: uma marca que diz alguma coisa às pessoas e induz reacções emocionais”, disse ainda Gus Wenner, segundo o qual o negócio começou a ser pensado já há um ano durante um jantar com Meng Ru Kuok num restaurante de Nova Iorque.

Os valores da transacção não foram divulgados, mas esta incluiu as 12 edições internacionais da revista e o plano passa por formar uma nova subsidiária em Singapura, a Rolling Stone International, que será dirigida por Kuok, de 28 anos.

Proprietária de uma plataforma para criação e venda de música, a BandLab Technologies também está presente no retalho e acabou de comprar a MONO, uma empresa de acessórios musicais. “A nossa força é o conhecimento local”, disse Kuok numa entrevista citada pelo Wall Street Journal, acrescentado a sua convicção de que esta é uma parceria para “durar muito anos” e assegurando que não pretende envolver-se nas decisões editoriais da publicação.

Jeffrey A. Trachtenberg, do Wall Street Journal, vê nesta aliança “a oportunidade de a Rolling Stone se expandir nos concertos ao vivo e no negócio de merchandising na Ásia, domínios em que a BandLab tem experiência”, e cita um porta-voz da revista para lembrar que as páginas de publicidade na edição em papel decresceram, no último ano, cerca de 14%. Já o número de visitas ao site da revista terá crescido quase 60% nos últimos dois anos.

Criada em 1967 por Jann Wenner e pelo crítico de música Ralph J. Gleason, a Rolling Stone rapidamente deixou de ser apenas uma revista de música para tratar outras áreas da cultura popular e cobrir acontecimentos políticos.

Tendo entrado no novo século a perder leitores a um ritmo preocupante, a revista teve um novo ressurgimento no final da década de 2000, para o qual contribuiu significativamente o trabalho do jornalista Matt Taibbi, com os seus artigos de investigação em torno da crise financeira. Ficou célebre a sua definição da Goldman Sachs como “uma gigantesca lula-vampiro grudada à cara da humanidade, sugando implacavelmente tudo o que cheire a dinheiro”.  

E se Taibbi fez estragos no mundo da finança, outro jornalista, Michael Hasting, fez o mesmo nos meios da política, tendo mesmo levado em 2010 à demissão de um general, Stanley A. McChrystal, então comandante das forças americanas no Afeganistão, de quem um artigo seu citava declarações muito críticas do vice-presidente Joe Biden e de outras altas figuras da administração Obama.

A falsa reportagem que abalou a revista

Mas a credibilidade da revista viria a ser seriamente afectada em 2014 com a publicação, em Novembro, do artigo A Rape on Campus, de Sabrina Erdely, que narrava uma violação em grupo na Universidade de Virgínia, em Charlottesville, de que teria sido vítima, com a colaboração da fraternidade estudantil Phi Kappa Pi, uma caloira identificada apenas pelo nome próprio Jackie. As discrepâncias do artigo chamaram a atenção do jornal Washington Post, que investigou o caso e revelou as muitas inconsistências do relato de Erdely.

Face às críticas cada vez mais intensas nos media, o editor da Rolling Stone, Will Dana, pediu desculpa, em Dezembro, pelo facto de a história não ter sido devidamente confirmada e encomendou uma investigação independente à Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, que além de ter confirmado os erros do artigo, revelou problemas estruturais nos métodos de investigação jornalística da revista.

Aos danos de reputação, este caso vem somar riscos financeiros significativos. Nicole Eramo, a funcionária da Universidade encarregada de lidar com eventuais ataques sexuais e prestar apoio às respectivas vítimas, processou a revista em Maio de 2015 exige uma indemnização de 7,5 milhões de dólares por difamação. E se um outro processo interposto por três estudantes da Phi Kappa Pi já não irá a julgamento, a própria fraternidade entrou com um processo em Novembro de 2015, pedindo uma indemnização de 25 milhões de dólares.

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