“É como uma viagem no tempo”, diz Kathy Etchingham. A ex-namorada de Jimi Hendrix está sentada na cama que foi a deles, contemplando o quarto decorado tal como estava quando o partilharam, em Londres, nos anos 1960. Foi aqui, no número 23 da Brook Street, que o músico americano Jimi Hendrix (1942-1970) e a sua companheira inglesa da altura viveram entre 1968 e 1969. Foi aqui que o genial guitarrista inventou vários riffs que revolucionaram a história da música e onde descobriu o chá e a obra do compositor alemão Georg Friedrich Händel (1685-1759).

A partir desta quarta-feira é possível visitar-se por 7,50 libras (cerca de 10 euros) o pequeno apartamento, que só pode receber vinte visitantes de cada vez e se situa no bairro chique de Mayfair, no centro da capital britânica, e descobrir-se que atrás do músico e da sua lenda se escondia um homem arrumadinho.

Graças à memória intacta de Kathy, que agora vive na Austrália, e às fotos tiradas na época, o quarto de dormir do casal, que fica no terceiro andar do apartamento da Brook Street, foi reconstituído tal e qual como era quando eles lá viviam. Os álbuns de vinil que ambos ouviam estão pousados ao lado do gira-discos antigo. Há um bule de chá num tabuleiro no chão, dois telefones e um televisor, e vários tapetes persas espalhados pelo quarto. Há um jogo de Monópolio, plumas a decorar a chaminé, o ambiente é muito hippie. O espelho e a mesinha baixa são as originais. Numa das mesas está um gravador e na mesinha de cabeceira vê-se uma garrafa vazia de Mateus rosé e um manuscrito com a letra de uma canção.

“Está mesmo tal e qual como na época” afirma Kathy Etchingham que foi a primeira mulher DJ a trabalhar na capital britânica em 1960. O apartamento, alugado na época pelos dois, incluía uma segunda divisão com uma cozinha e um quarto-de-banho mas que não é agora incluída na visita. 

A casa tem a particularidade de se situar num edifício vizinho daquele que foi ocupado no século XVIII pelo compositor alemão Georg Friedrich Händel, um outro pioneiro na sua área. A casa de Händel, que fica no número 25 da mesma rua, é também um museu e está aberto ao público desde 2001. E é tal a proximidade entre os dois que o quarto de Jimi Hendrix chegou a albergar os escritórios do Händel House Trust, antes de ter sido decidido - depois de tantas pessoas pedirem para visitar o local -  que também se transformaria numa casa-museu. É por isso que o público tanto pode visitar  o quarto que foi de Hendrix como a casa que foi de Händel, onde está exposta uma guitarra acústica do americano, uma Epiphone FT79, para mostrar a ligação entre os dois.

“É provavelmente a sua melhor guitarra que ainda nos resta. Ele tinha o hábito de destruir muitas em palco”, lembra Martin Wyatt, director adjunto do museu, à agência AFP. Hendrix conhecia bem o trabalho e a história de Händel nascido dois séculos antes dele na Alemanha e que também se instalou em Londres. Uma placa em memória do compositor está colocada de maneira ambígua no exterior da sua antiga casa, fazendo os visitantes hesitarem entre entrar no número 23 ou no número 25. Jimi Hendrix costumava receber a visita de vários estudantes de música que eram admiradores do compositor alemão. “De tanto discutir com eles, Jimi decidiu que o melhor era interessar-se pela sua obra”, lembra Kathy Etchingham. Foi por isso, lembra, que compraram O Messias, uma das obras mais conhecidas de Händel, que foi composta por ele do outro lado da parede daquele quarto onde Kathy Etchingham agora se encontra. 

Nascido em Seatle, nos Estados Unidos, Jimi Hendrix habituou-se bem aos hábitos dos britânicos. “Ele nunca tinha bebido chá antes de vir para cá, mas aqui não tinha escolha”, lembra a rir a sua antiga namorada. O casal instalou-se no apartamento londrino, com a gata Pussy, no dia 4 de Julho de 1968. Pagavam um aluguer de 30 libras (40 euros) por mês. “Jimi era muito organizado e gostava de ter as coisas arrumadas. Tinha estado no exército e por isso estava habituado a fazer a sua própria cama, era um perfeccionista”, lembra Kathy. Jimi Hendrix saiu daquela casa em Outubro de 1969.  Cerca de um ano mais tarde  morreu num hotel londrino, provavelmente por causa de uma overdose de barbitúricos. Tinha 27 anos.