É oficial: a Catwoman é bissexual

Um beijo no último quadradinho da mais recente aventura da personagem da DC Comics, lançada sexta-feira nos EUA, confirma os rumores recorrentes.

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O beijo da última página: histórico, o 39.º volume das aventuras de Catwoman
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A capa do mais recente episódio das aventuras de Catwoman

Não, a Catwoman não deixou de pensar no Batman (é um amor de 75 anos, não se esquece de um dia para o outro) e é possível que voltemos a apanhá-la na cama com ele, sem fato e sem máscara, mas agora é oficial: a personagem que começou por ser figura secundária nas aventuras do super-herói da DC Comics em 1940 está apaixonada por uma rival e assume-se abertamente como uma "bissexual canónica" no novo volume da sua saga, o 39.º, lançado esta sexta-feira nos EUA.

Só isso?, pergunta-se parte da comunidade da banda desenhada. Só isso mas já é muito, ainda que os rumores acerca da bissexualidade da Catwoman sejam quase tão velhos como ela. Não é a primeira vez que flirta com outra mulher em cima de um telhado, mas é a primeira vez que a vemos a avançar decididamente para aquilo que pode muito bem ser o princípio de uma bela amizade. De resto, a autora do actual ciclo de aventuras da super-heroína de Gotham City, Genevieve Valentine, já confirmou no seu blogue que esta não será uma história para esquecer na manhã seguinte: "Ela flirtou com esta ideia, às vezes de forma bastante literal, durante muitos anos. Para mim isto é mais uma confirmação do que uma revelação."

É preciso esperar até ao último quadradinho do novo episódio para a ver aproximar-se definitivamente de Eiko, a líder de uma facção criminosa rival que lhe rouba o fato e a persona numa altura particularmente difícil da vida de Selina Kyle, aliás Catwoman: "É um volume muito importante em termos de enredo: aquele em que a Selina tem de decidir se vai para a guerra com um inimigo cada vez mais poderoso; aquele em que (...) tem de decidir se acredita que tem um irmão (...); e também aquele em que a Eiko finalmente percebe uma das razões pelas quais sempre se sentiu tão atraída pela Selina e põe toda uma outra narrativa em acção", explica Genevieve Valentine. É então que, à luz fria da lua, Eiko lhe pede para ter cuidado porque se avizinha uma guerra, e que as duas se beijam. Antes de se despedirem, Eiko ainda tem tempo para perguntar se o beijo foi por ela ou pelo fato. "Não sei. Mas se sobrevivermos a isto, será bom que descubramos."

Estava programado que Selina Kyle saísse do armário neste novo ciclo de seis aventuras que Genevieve Valentine foi contratada para escrever. E Eiko, escreve a autora no seu blogue, "parecia a pessoa certa: inteligente, determinada e com suficiente conhecimento acerca de Selina para que a sua honestidade pudesse oferecer-lhe um abrigo numa situação cada vez mais desonesta para todos os envolvidos". "Quanto mais falávamos disto, mais era uma coisa que eu queria fazer acontecer", continua Valentine, admitindo que os desenvolvimentos do 39.º episódio não foram surpreendentes para as duas rivais de Gotham City: "Certamente que não é uma surpresa para a Selina sentir-se atraída por outra mulher. Este beijo em particular é uma surpresa? É definitivamente surpreendente: é a última coisa que é suposto fazer-se no limiar de uma guerra, e ambas sabem disso."

Ainda assim, não é de esperar que o longo e muito acidentado affair de Catwoman com o seu umas vezes aliado e outras vezes rival Batman não volte a dar sinais de vida. A ligação entre os dois, inaugurada logo na primeira aparição de Selina em 1940, será retomada sempre que voltar a instalar-se uma inadiável vontade de cama. Um beijo pode acabar com 75 anos de história comum? "Não é assim que a bissexualidade – ou sequer a Humanidade – funciona", sublinha Genevieve Valentine, que também não garante a longevidade da relação com Eiko: "Vão implodir de forma dramática? Bem, isto é BD, pode acontecer. Mas até lá haverá uma relação."

"Um grande avanço"

A reacção da comunidade dos comics ao anúncio da bissexualidade da Catwoman demonstrou que este era um segredo bastante mal guardado. O mundo está em paz, mesmo depois do beijo da última página do volume 39. Para activistas da causa, no entanto, é uma extraordinária "revolução": "Embora a Catwoman tenha flirtado com outras mulheres no passado, isso só serviu para confirmar a sua identidade hipersexual e nunca constituiu um desenvolvimento significativo para a personagem. Em termos da representação LGBT no universo da DC Comics, é óptimo que tenhamos agora a Batwoman, uma personagem originalmente lésbica, e que o Lanterna Verde original, o Alan Scott, tenha sido reintroduzido como gay, mas nenhum deles tem o reconhecimento popular da Catwoman", acredita Laura Sneddon, que mantém o blogue ComicBookGrrrl. É, reforça, "um grande avanço para os fãs LGBT e sobretudo para as mulheres bissexuais, muito difíceis de construir enquanto personagens não-sensacionalistas nos media em geral e como super-heróis da BD em particular".

Ainda que os casos de Batwoman, em 2006, e do Lanterna Verde, em 2012, tenham constituído precedentes históricos relevantes, a nova identidade da Catwoman é provavelmente o passo mais corajoso da DC Comics no que diz respeito à auto-determinação sexual dos seus super-heróis. E a resposta possível ao casamento do Estrela Polar, do colectivo X-Men, com o seu companheiro, que a rival Marvel espantosamente autorizou também em 2012.

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