E esta?

Tenho uma delícia bisbilhoteira nas mãos: um estudo dos livros com que viveu Samuel Beckett (S.B.), contando páginas dobradas e sublinhados. O livro, de Dirk Van Hulle e Mark Nixon, chama-se Samuel Beckett's Library e é publicado pela Cambridge University Press (CUP) que, num gesto cada vez mais raro, o imprimiu e o encadernou bem por um preço justo (35,91 euros, sem mais despesas postais, no Book Depository). Só falharam na revisão de provas: "Aquilina Ribeiro" em vez de Aquilino Ribeiro.

É um trabalho, esta obra. Examinaram cada livro da biblioteca de S.B.. Em todas as recensões que tenho lido menciona-se que ele tinha poucos livros. É mentira. Tinha muitos. Não tinha era os livros que os críticos gostariam que ele tivesse, tal como os romances e poemas de escritores criticamente consagrados, com enfadonha, suspeita e quase sempre iletrada e automática unanimidade.

Só dá para um rebuçado: S.B. traduziu poemas mexicanos, mas não só nunca aprendeu castelhano como nunca foi a Espanha. Em contrapartida, visitou Portugal (Cascais e Funchal, que eu saiba) pelo menos duas vezes. Sobretudo tentou aprender a língua portuguesa, através do Compêndio de Gramática Portuguesa de José Nunes de Figueiredo e António Gomes Ferreira, de 1968, hoje publicado pela Porto Editora. Em 1969 S.B. ganhou o Nobel e fugiu para o Hotel Cidadela, em Cascais.

Tanto porfiou que conseguiu ler Agatha Christie em português: coisa que eu em inglês ainda estou a tentar fazer.

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