Destroços encontrados no Haiti não pertencem à nau de Colombo

UNESCO rejeita alegações de explorador subaquático. A Santa Maria que o navegador levou na sua primeira viagem à América, há mais de 500 anos, continua por descobrir.

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"Cristóvão Colombo no "Santa Maria' em 1492", de Emanuel Leutze, 1855 DR

Afinal, a embarcação naufragada ao largo do Haiti não pertence à frota com que Cristóvão Colombo descobriu a América em 1492. As garantias são dadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que acaba de emitir um comunicado em que deixa bem claro que os vestígios apresentados em Maio pelo explorador norte-americano Barry Clifford não podem pertencer à Santa Maria, nau almirante da frota deste navegador: “Há provas irrefutáveis de que os destroços pertencem a uma embarcação de um período muito mais tardio.”

A UNESCO baseia-se nas conclusões reunidas pelos especialistas que nomeou para avaliar os destroços e que mergulharam nas águas haitianas entre 9 e 14 de Setembro. Esta equipa liderada pelo espanhol Xavier Nieto Prieto, profundo conhecer dos naufrágios espanhóis, concluiu que “os elementos de fixação encontrados no local […] são testemunho de uma técnica de construção naval que remonta ao final do século XVII e ao século XVIII”. Estes elementos, que unem as tábuas umas às outras, são em cobre, quando os usados no tempo de Colombo eram em ferro ou madeira, explicaram os arqueólogos, segundo a agência de notícias francesa AFP.

“Por outro lado, segundo os registos de época – nomeadamente o diário de bordo de Cristóvão Colombo, transcrito por Bartolomé de Las Casas [dominicano e cronista] – os destroços estão demasiado longe da costa para serem os da Santa Maria”, continua a UNESCO.

Os especialistas contratados por este braço cultural das Nações Unidas a pedido do governo haitiano, que receava que os vestígios da embarcação fossem saqueados, vêm assim contrariar as pretensões de Clifford, que garantiu aos jornalistas a 14 de Maio, em Nova Iorque, que tudo indicava tratar-se da célebre nau.

“Todos os dados geográficos, arqueológicos e topográficos sugerem que esta embarcação naufragada é a famosa nau almirante de Colombo, a Santa Maria”, disse o arqueólogo. “Estou confiante de que uma escavação completa da nau vai produzir a primeira prova arqueológica marinha detalhada da descoberta da América por Colombo.”

O arqueólogo baseava-se ainda nas ruínas de um pequeno forte localizadas em 2003 e num canhão do século XV descoberto nas imediações no mesmo ano e entretanto desaparecido.

Os vestígios do fortim seriam significativos porque, de acordo com relatos da época, a nau almirante – liderava uma frota composta por duas caravelas, a Niña e a Pinta – naufragou depois de encalhar num recife ou num banco de areia ao largo da costa norte do Haiti na noite de Natal de 1492. Parte da tripulação terá ficado para trás e, respeitando ordens de Colombo, terá construído um modesto aquartelamento com madeira da nau encalhada. Quando Colombo regressou no ano seguinte, os seus marinheiros tinham desaparecido e, desde então, a Santa Maria ficou por localizar.

Com 25 metros de comprimento por oito de largura, 102 toneladas e um mastro principal com 23 metros, era a maior embarcação da frota. A bordo deveriam seguir cerca de 40 marinheiros.

Aos 68 anos, e depois de nas últimas décadas ter já identificado dezenas de locais de naufrágios em todo o mundo, Barry Clifford não estará surpreendido com as conclusões dos especialistas da UNESCO agora divulgadas. No mês passado, e segundo o site da cadeia de televisão Fox, este arqueólogo tinha já dito à agência de notícias Associated Press que não reunira com os especialistas contratados antes de publicarem o seu relatório e que esperava que a equipa de Xavier Nieto Prieto viesse levantar dúvidas.

Estes arqueólogos defendem, por seu lado, que “devem ser feitas escavações suplementares para localizar a verdadeira nau e para elaborar um inventário das embarcações naufragadas na zona”. Acrescentam ainda que a Santa Maria pode estar sepultada sob camadas e camadas de sedimentos ou ter sido lentamente arrastada ao longo de cinco séculos, afastando-se ainda mais da costa do que o que seria de esperar a partir das crónicas e diários da época.

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