Descobertas em Moscovo 59 esculturas levadas de Berlim no final da guerra

Obras de Donatello, Verrocchio ou Fiesole entre as 59 peças encontradas no Museu Pushkín, quase todas bastante danificadas.

Foto
Escultura de Mino da Fiesole no estado em que se encontrava antes de 1945

Uma equipa de historiadores de arte descobriu no Museu Pushkín, em Moscovo, 59 esculturas desaparecidas de colecções públicas alemãs no final da Segunda Guerra, informou a Fundação do Património Cultural Prussiano.  

O achado inclui obras de Donatello, Luca della Robbia, Nicola e Giovanni Pisano, Andrea del Verrocchio, Francesco Laurana e Mino da Fiesole que antes da guerra estavam guardadas no então Museu Kaiser Friedrich (hoje Museu Bode), em Berlim. Durante a guerra, foram transferidas para uma das várias torres que o governo nazi construiu em Berlim para funcionarem como abrigos e postos de defesa contra ataques aéreos.

Em Maio de 1945, esta torre, situada na zona oriental da cidade, sofreu dois incêndios e muitas obras terão então sido destruídas, incluindo, segundo se crê, um S. Mateus pintado por Caravaggio. O que restou foi levado para a União Soviética, após a derrota alemã, pelo Exército Vermelho de Estaline.

Durante décadas, os historiadores de arte alemães não tiveram modo de apurar que obras tinham sido consumidas pelo fogo e quais tinham sobrevivido e se encontravam na então União Soviética. A situação mudou em 2005, quando dezenas de museus russos e alemães começaram a cooperar sistematicamente em projectos comuns de investigação para descobrir o paradeiro de obras de arte desaparecidas de ambos os países.

“A maior parte das esculturas está danificada, e algumas encontram-se em fragmentos”, disse o director do departamento da Renascença Italiana no Museu Bode, Neville Rowley, que fez parte da equipa de investigadores responsável pelo achado destas 59 esculturas em Moscovo.

O estado em que se encontram as peças não permite que sejam já expostas, explicou Rowley, mas “há planos para as expor no Museu Pushkín após terem sido restauradas”.

A mesma equipa já anunciara em 2015 a descoberta de uma escultura de Donatello, representando S. João Baptista, que viera da mesma torre berlinense e se encontrava muito estragada pela acção do fogo. “O que concluímos”, diz Rowley, “é que as esculturas que sobreviveram aos incêndios na torre eram feitas de mármore, bronze ou terracota, ao passo que as de gesso ou madeira desapareceram”. Tal como as pinturas, incluindo a de Caravaggio, que “muito provavelmente foram destruídas, simplesmente por causa do material de que eram feitas”.

Após a Segunda Guerra, as chamadas brigadas dos troféus do Exército Vermelho terão levado da Alemanha Oriental mais de 2,5 milhões de obras de arte, vistas como reparação pelo saque e destruição que o património cultural soviético tinha sofrido às mãos das tropas alemãs durante os anos da guerra. Em 1958, num gesto amigável para o regime comunista da República Democrática Alemã, a União Soviética devolveu cerca de milhão e meio de obras, incluindo o longo friso em baixo relevo do Altar de Pérgamo, hoje exposto no Museu Pérgamo de Berlim.

Crê-se que permaneçam ainda na Rússia cerca de um milhão de obras de arte levadas da Alemanha, para lá de milhões de livros e de vastos arquivos documentais. A Alemanha considera que este património lhe pertence, mas a Rússia recusa-se a devolvê-lo, mantendo a tese de que se trata de compensações pelas perdas russas durante a guerra. Em 1996, a Duma aprovou mesmo uma lei declarando que as obras em causa são propriedade da Rússia.

Mas se as negociações políticas para dirimir a questão da propriedade não tiveram êxito, a cooperação ao nível dos museus de ambos os países tem permitido localizar, identificar, restaurar, e em alguns casos expor, muitas obras de arte desaparecidas.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários