A temporada do D. Maria, de Shakespeare a Pasolini, de Cyrano a Pirandello

Diogo Infante regressa ao D. Maria como Cyrano de Bergerac, estreitam-se laços com a Galiza e Alexandre Farto (Vhils) é chamado a intervir nas paredes do teatro.

João Mota
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João Mota, director artístico do D. Maria Enric Vives-Rubio
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Diogo Infante em "Cyrano de Bergerac", dramaturgia e adaptação de João Maria André José Frade
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"O Avarento", de Molière, encenada por Rogério de Carvalho Susana Neves
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"Otelo", adaptação de Jaime Lorca, Teresita Iacobelli e Chistian Ortega Rafael Arenas

Primeiro Shakespeare com um Otelo feito de marionetas e dois actores, depois uma Farsa de Raúl Brandão que dá lugar a Pier Paolo Pasolini com Pílades, encenado por Luís Miguel Cintra. As co-produções são a marca da temporada 2014/15 do Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII) que começa esta terça-feira e que terá apenas duas produções próprias – Cyrano de Bergerac, o regresso de Diogo Infante ao D. Maria para ser encenado pelo seu sucessor no cargo de director artístico, João Mota, e Saxo Tenor, do importante dramaturgo galego Roberto Vidal Bolaño.

Mais de 20 peças de diferentes autores, portugueses e estrangeiros, clássicos e menos conhecidos do grande público sobem ao palco do TNDMII até Julho, dizendo João Mota ao PÚBLICO que já tem projectos para a rentrée de 2015 – se se confirmar em Dezembro a sua recondução na direcção artística do D. Maria. “São três anos, não quer dizer que eu não saia antes. Estar aqui cansa-me muito”, diz, mencionando os seus 72 anos e os projectos que não quer abandonar: “Não posso deixar a Comuna definitivamente” e “gostava de fazer o Teatro Nacional para a Infância e Juventude. [Programa] Que está escrito, está feito”.

“Enquanto esta administração ficar, eu digo que fico”, afirma. Do lado da tutela, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, diz apenas que “falará dessa matéria em data oportuna”.

Com limitações orçamentais – “menos 48% do que tinha a antiga administração” -, Mota convidou companhias como a Karnart (A Farsa, 25 de Setembro a 9 de Outubro), a Cornucópia (Pílades, de 16 de Outubro a 9 de Novembro), Teatro de Montemuro (Memórias Partilhadas, de 3 de Janeiro a 1 de Fevereiro, e À Espera que Volte de Paulo Duarte e Madalena Victorino, a única mulher a encenar no Nacional esta temporada, de 7 a 30 de Janeiro) ou Mala Voadora (Pirandello, de 12 de Março a 4 de Abril) para co-produções. E associa-se a eventos como Próximo Futuro (Otelo), Festival de Almada, FIMFA ou o Projecto Nós – Território Es(Cénico) Portugal Galicia para esta temporada.

O orçamento é o mesmo da temporada anterior – “670 mil euros para programar a sala Estúdio, a sala Garrett, todos os encontros [Garrett, série de debates] para todo o ano e daí tem de sair o dinheiro para a publicidade, edição de livros”, enumera o director artístico. Daí que haja apenas duas produções próprias e que Cyrano, por exemplo, fique em sala dois meses (de 8 de Janeiro a 1 de Março de 2015) em vez de um. Um projecto que Infante e Mota acalentam há anos e que dá agora “enorme prazer” ao actor no regresso à casa de onde saiu em 2011 em ruptura por questões orçamentais, como explicou na manhã desta segunda-feira na apresentação da temporada - o texto de Edmond de Rostand é traduzido por Nuno Júdice e o elenco inclui Virgílio Castelo, Sara Carinhas ou João Grosso; a dramaturgia e adaptação é dividida com João Maria André.

Já em Novembro, estreia-se no Nacional um texto do dramaturgo Fernando Augusto (1947-2003), importante nome na formação de públicos e do teatro para as comunidades. Radiografia de um Nevoeiro Imperturbável, encenada por Daniel Gorjão e com interpretações de André Patrício e Cátia Terrinca, entre outros actores e elementos da comunidade, estará na Sala Estúdio de 13 de Novembro a 7 de Dezembro numa co-produção do TNDMII com o Teatro do Vão. Na Sala Garrett, a 15 e 16 de Novembro, estará Folia, Shakespeare & Co., dirigida e coreografada por Gigi Caciuleanu, um dos mais conhecidos artistas romenos.

Três Parábolas da Possessão, de Francisco Luís Parreira e dirigido por João Garcia Miguel, está na Sala Estúdio em Abril, mês em que chega à Sala Garrett O Fim das Possibilidades, de Jean-Pierre Sarrazac, uma encenação de Fernando Mora Ramos e Nuno Carinhas numa co-produção Teatro da Rainha e do Teatro Nacional São João do Porto – foi aliás onde se estreou em 2009 O Avarento de Molière, que entre 21 de Novembro e 7 de Dezembro se apresenta na Sala Garrett com a encenação de Rogério de Carvalho.

Saxo Tenor, de Bolaño, é a segunda produção do TNDMII da temporada, estreando-se a 7 de Maio e ficando na Sala Garrett até dia 24, encenada por José Martins. Há ainda Mulheres em Lorca, uma encenação e dramaturgia de Pedro Estorninho da Teatro Ensaio para três actrizes (29 de Abril a 10 de Maio), Mapa, de Regina Guimarães, ou Nós, uma co-produção com a Associação de Surdos do Porto a partir de A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe. Rodrigo Francisco está ainda a trabalhar em Kilimanjaro, a partir de Ernest Hemingway, para Junho, e no mesmo mês chega Do Desassossego, Pessoa/Bernardo Soares em monólogo por Carlos Paulo.

Os próximos meses do TNDMII contam ainda com uma intervenção do artista Alexandre Farto, nome de guerra e de rua Vhils, nas paredes do teatro já a partir dedia 27 no contexto do projecto Memória (1964), que inclui edição de dois livros, uma exposição e um encontro de reflexão sobre o incêndio que destruiu o edifício naquele ano.

João Mota, que não quer que o TNDMII seja “o teatro do Rossio” lisboeta, mas sim um teatro de “todos, do país”, lamenta a ausência de verbas para apoiar a internacionalização ou digressão pelo país – apenas Joaninha dos Olhos Verdes, de António Torrado, vai ao Centro Cultural da Malaposta, em Outubro. Mas congratula-se com os resultados das novas sessões das 19h às quartas-feiras, a metade do preço, “com uma média com 200/250” espectadores, enquanto “os outros espectáculos têm tido médias de 280/300 espectadores, chegando alguns aos 380. E é com essa possibilidade que vamos vivendo”.

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