Da cabeça de Nathan Williams saiu uma BD (e o ilustrador é o portuense Rudolfo)

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Nathan Williams recrutou o ilustrador de Negative Dad no Porto — assim se percebe que o nome “Ghuna X” esteja grafitado num autocarro de Verlaine City...

Há dois anos, Nathan Williams, o homem que, através dos Wavves, recolocou o atroz aborrecimento adolescente, a auto-depreciação e o humor slacker que fez escola nos anos 1990 no mundo rock'n'roll, deu notícia de que estava a preparar uma série BD. Chamar-se-ia Negative Dad. Dois anos depois está disponível o primeiro dos 12 volumes que completarão a saga sobre, lê-se em press release, "a fantástica e perturbadora viagem de dois jovens mutantes, Daniel e Serjio, desvendando segredos que rodeiam a sua família e amigos". Será distribuído através da loja alojada no site da banda, http://wavves.gomerch.com/, com um preço de dez dólares.

Em Negative Dad, escrito por Nathan Williams e Matt Barajas, podemos ver, por exemplo, um autocarro em que foi rabiscado "Ghuna X". Ghuna X? Exactamente, o músico, produtor e editor portuense. É um dos "ovos da Páscoa" que o ilustrador Rudolfo, também do Porto e também músico (quando o tempo disponível o permite), foi deixando ao longo das páginas da BD. Como se depreende, Rudolfo, 20 e poucos anos, autor da fanzine Lodaçal Comix, criador do "hate beat" na pele do alter-ego Vampiro do Gueto, compositor em 2010 do hino não-oficial do festival Milhões de Festa (chamou-lhe Crunklhões) e, genericamente, criador com um humor desconcertante, foi o escolhido por Nathan Williams para desenhar Negative Dad. O ilustrador contou ao Ípsilon que o convite surgiu depois de, no Optimus Primavera Sound de 2012, ter passado algumas das suas fanzines ao vocalista da banda. "Sou fã dos Wavves e, pelo que conhecia dele achei que iria gostar". Williams elogiou o que viu, twittou algum do trabalho de Rudolfo e, pouco depois, este recebia o convite para dar imagens à saga.

Rudolfo, que um artigo no P3 situava num universo de referências "entre a viseira do Kamen Rider e as pegadas do Godzilla, entre a segunda vaga de videojogos e as capas épicas de heavy metal", avisa que Negative Dad é "muito mais sério" do que se esperaria de Nathan Williams: "Parte vai ao encontro do material que costumo desenhar, mas situa-se muito além dele. A história é mais séria e mais adulta. O meu tem mais piadas juvenis fálicas." A "seriedade", mesmo tendo em conta o imaginário que rodeia os Wavves, não surpreendeu Rudolfo. "A banda tem aquele lado ‘pedrado', aquele ‘não estou a fazer nada da vida', mas, por trás disso, só encontramos tristeza. O universo desta banda desenhada reflecte, muito mais do que as canções, esse lado negro do Nathan Williams." A história dos dois habitantes de Verlaine City, cidade outrora centro de uma revolução científica e hoje cenário de decadência pós-apocalíptica, tem até, no limite, um travo clássico. "A visão distópica de Watchmen [de Alan Moore] reunida àquele desespero Nathan Williams", aponta Rudolfo.

Prevê-se que cada um dos 12 volumes tenha edição semestral. Rudolfo passou os últimos tempos dedicado ao primeiro. Entretanto a música (auto-editou o álbum Rudolfo em 2012) foi posta de parte. O homem que quer "sobreviver a fazer bonecos", como dizia ao P3, tem-se dedicado, de facto, totalmente à ilustração.

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