Como a música

Faz falta um sistema para podermos partilhar todos os livros do mundo.

Por que é que os livros — pesados, impressos e assassinos de árvores — crescem em torres por muito que compremos ebooks para o Kindle? Não é só por não conseguirmos ler iBooks nos iluminados e cansativos tablets e telemóveis.

Por que é que ouvimos música através de estações de rádio (vivas ou da Internet, empresas de streaming ou CD) sem a mesma ocupação espacial?

Ler não distingue entre o livro e o Kindle. O livro é bom; o Kindle também. A certa altura, que já passou, as pessoas que gostam de ler esqueceram-se de onde estavam a ler. Ainda bem.

Na música onde vigora o excelente sistema das sociedades de autores —, as heroínas e os heróis que protegem os autores (em Portugal temos a sorte de ter a SPA) tornaram-se amigos.

A música pode ser muito partilhada mas é criada por uma, duas ou três pessoas. Os livros são quase sempre de um para um.

Os livros são lidos em silêncio. Atiram-se aos nossos olhos, como faíscas.

As músicas são mais como respirações. Facilmente se imagina morrermos por falta de oxigénio.

Facilmente se imagina que daqui a pouco tempo se possa ler tudo em streaming também. É muito mais fácil cada um ter todas as bibliotecas nacionais no equivalente livresco do Spotify do que ter as músicas.

Teríamos à mesma a mania de comprar livros para ter em casa. As únicas barreiras são as do costume: preconceitos, resistências, defesas teimosas de feudos.

É pena. Faz falta um sistema para podermos partilhar todos os livros do mundo.

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