Rasa não é outra Rosetta

A estreia de Gabriela Pichler evita sentimentalismos e demagogia mas não se consegue distinguir do modelo Dardenne.

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É raro que um filme apresentado no concurso oficial do IndieLisboa chegue às salas portuguesas, razão suficiente para referir a estreia de Comer Dormir Morrer primeiro filme da sueca Gabriela Pichler, que o festival mostrou em 2013.

Pichler, vinda do documentário e ela própria filha de imigrantes, evita o sentimentalismo e a demagogia ao contar, de modo ancorado numa realidade bem definida, a história de Rasa (a excelente Nermina Lukac), filha de um imigrante montenegrino numa pequena comunidade de província que, despedida do seu emprego numa fábrica, se recusa a ceder ao desespero do desemprego sem futuro mas vê as opções a fecharem-se cada vez mais.

A segurança com que Comer Dormir Morrer é apresentado, e o modo desapaixonado como denuncia o capitalismo puramente economicista (tornando-o numa espécie de primo afastado do documentário de Susana Nobre Vida Activa), não impedem no entanto que haja por aqui um travo requentado, como se Gabriela Pichler não fosse capaz de se libertar da sombra omnipresente dos irmãos Dardenne. Nem Rasa é outra Rosetta, nem Comer Dormir Morrer traz muito que o distinga do resto da recente vaga de melodramas sociais pós-neo-realistas que se tornaram no ai-jesus do moderno cinema de autor europeu.

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