Cinco óperas e dois bailados na nova temporada do São Carlos

O orçamento para a temporada 2014-2015 é de 1,7 milhões de euros e apresenta uma programação "coerente", diz José António Falcão, do OPART.

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O Teatro Nacional São Carlos abre a nova temporada a 20 de Setembro daniel rocha

O Teatro Nacional São Carlos (TNSC), em Lisboa, estreia em Outubro uma nova temporada lírica que terá cinco óperas e dois bailados, entre elas, Macbeth, com Elisabete Matos, em Fevereiro. A temporada sinfónica do teatro, com estreia já em Setembro, apresenta 17 concertos e a maestrina Joana Carneiro, consultora artística do TNSC, será uma presença constante na direcção destes espectáculos.

A programação do TNSC de Setembro a Junho – toda a temporada 2014-2015 – foi já planeada e apresentada, o que não acontecia desde 2011. Na conferência de imprensa na quarta-feira no São Carlos, Paolo Pinamonti, consultor artístico do teatro, destacou a presença de Elisabete Matos, “uma referência internacional com um reportório excepcional”, na ópera de Fevereiro de 2015: Macbeth, de Verdi, com encenação de Elena Barbalich e direcção musical de Domenico Longo. Entre dia 21 de Fevereiro e 1 de Março, a soprano portuguesa que completou no ano passado 25 anos de carreira interpreta Lady Macbeth, ao lado do barítono Ángel Òdena, como Macbeth. 

Nesta programação em tempos de contenção orçamental, o orçamento para a temporada será de 1,7 milhões de euros, esclareceu José António Falcão, presidente do conselho de administração do Organismo de Produção Artística (OPART), que tutela o TNSC.

Falcão disse ao PÚBLICO estar “satisfeito” com esta temporada, que considera ser “coerente” e de que destaca a ópera de abertura, a 27 de Outubro: Werther, de Jules Massenet, é uma reposição da encenação que Graham Vick apresentou em Fevereiro de 2004 neste mesmo teatro. A direcção musical está a cargo de Cristóbal Soler e nos três papéis principais estão Fernando Portari, como WertherVeronica Simeoni, Charlotte, e Luís Rodrigues, "uma referência no panorama dos jovens cantores portugueses", considera Pinamonti, a interpretar Albert.

“O que estamos a procurar é garantir um projecto para os anos futuros, um trabalho que garanta o apoio dos colaboradores e o acolhimento do público”, disse o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que esteve presente na apresentação da programação do teatro de ópera mas abandonou a sala sem responder a perguntas.

Na primeira temporada em que é consultor artístico – foi nomeado pelo SEC em Março deste ano – Pinamonti, director do Teatro da Zarzuela, em Espanha, programou para Lisboa a zarzuela Los Diamantes de la Corona, de Francisco Asenjo Barbieri – uma produção deste teatro espanhol, com encenação de José Carlos Plaza e direcção musical do português Rui Pinheiro. Em Janeiro, sobe ao palco La Cenerentola, de Rossini, em Abril, com encenação de Paul Curran e direcção musical de Pedro Neves, uma ópera que "já fazia falta no São Carlos", disse o consultor artístico, sobre esta produção do São Carlos de Nápoles. A ópera que se apresenta entre 22 e 29 de Janeiro terá a meio-soprano Chiara Amaru como Angelina e o barítono Luís Cansino como Don Magnífico.

A completar a programação lírica há ainda The Rake’s Progress, de Igor Stravinsky, com direcção musical de Joana Carneiro e encenação e coreografia de Rui Horta. Será a terceira ópera que Carneiro dirige ao lado de Horta e é, segundo Pinamonti, “uma grande aposta da produção lírica”. Esta ópera em três actos "fundamental do século XX", segundo o consultor artístico, apresenta-se no palco do São Carlos entre 29 de Maio e 6 de Junho.

Esta ópera antecede o bailado O Pássaro de Fogo, também de Stravinsky e também com direcção de Joana Carneiro, entre os dias 17 e 28 de Junho. O bailado coreografado por Fernando Duarte apresenta-se não no TNSC, mas no Teatro Camões. Uma parceria com a Companhia Nacional de Bailado (CNB), tal como Quebra Nozes, de Tchaikovsky. Este clássico de Natal terá uma nova coreografia de Fernando Duarte e direcção de orquestra de José Miguel Esandi, entre 5 e 21 de Dezembro, no TNSC.

A temporada sinfónica do TNSC apresenta o seu concerto inaugural a 20 de Setembro dirigido por Joana Carneiro, também consultora artística deste teatro. O concerto coral-sinfónico terá a participação do violoncelista Johannes Moser e apresentará Antónín Dvorak, Maurice Ravel, e o poema sinfónio para orquestra Antero de Quental, de Luís Freitas Branco.

Joana Carneiro disse que esta é “uma temporada que vai mostrar a versatilidade” da Orquestra Sinfónica Portuguesa, de que é maestrina titular, e que lhe dará a oportunidade de manter uma “relação mais próxima com os músicos”, já que vai dirigir muitas das apresentações.

A temporada, que se organiza em ciclos de concertos, quer dedicar um deles à memória de Vasco Graça Moura, disse Pinamonti – este conjunto de espectáculos realiza-se no Centro Cultural de Belém. Joana Carneiro dirige dois destes concertos: a 11 de Janeiro, com composições de Gyorgy Ligeti, John Adams e Shostakovich, e a 8 de Março, a Sinfonia nº 3 para solista, de Gustav Mahler, com a meio-soprano Maria José Montiel. Os outros dois concertos deste ciclo acontecem a 8 de Fevereiro –  a oratória para solistas, coro e orquestra Die Legende von der heiligen Elisabeth, de Franz List, com direcção de Arturo Tamayo – e a 3 de Maio, quando Pedro Neves dirige o concerto coral-sinfónico com composições de Robert Schumann e Tchaikovsky.

A propósito do centenário da Primeira Guerra Mundial “e pensando também na Segunda Grande Guerra”, o TNSC apresenta um ciclo para mostrar “como a música reflectiu estas tragédias”, disse Pinamonti. O programa tem o nome de Se non ora quando para homenagear o escritor Primo Levi, sobrevivente dos campos de concentração nazis.

Os quatro espectáculos do ciclo terão composições de autores ligados às grandes guerras: a 15 de Novembro, Albéric Magnard, Rudi Stephan, Alfredo Casella, Azio Corghi e Edward Elgar, com direcção musical de João Paulo Santos; a 22 de Novembro, as composições de Ravel, Dmitry Shostakovich e Franz Schreker são dirigidas por João Tiago Santos; a 29 de Novembro, as obras de Dallapicola, Fernando Lopes-Graça e Goffredo Patrassi, com direcção de Giovanni Andreoli. A última apresentação é a ópera para crianças Brundibar, que Hans Krása escreveu e apresentou no campo de Theresienstadt, em 1943, antes de morrer em Auschwitz-Birknau. No elenco estarão alunos do Conservatório Nacional de Música e ainda não há datas anunciadas.

Em Abril, o pianista espanhol Joaquín Achúcarro fica 15 dias em residência no teatro e para essa altura estão marcados quatro concertos, com direcção de Joana Carneiro, entre os dias 10 e 19 de Abril. Achúcarro tocará Chopin, Grieg, Ravel e Rachmaninov, entre outros, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. No último concerto deste conjunto, apresenta-se pela primeira vez uma encomenda do compositor Eurico Carrapatoso. O pianista vai ainda, durante este período, dar masterclasses no TNSC para jovens pianistas portugueses.

Depois de ter apresentado em anos anteriores o conjunto integral das sinfonias de Beethoven e de Shumann, o maestro italiano Donato Renzetti dirige um cilco de três concertos da integral de sinfonias de Mendelssohn, nos dias 27 de Setembro, 3 e 4 de Outubro.

A completar esta programação, o concerto de Natal, de 20 de Dezembro, terá direcção musical do contratenor Carlos Mena. Será O Messías, a versão de Mozart desta composição de Handel.

A temporada que termina em Junho de 2015 quer "honrar um compromisso com o público", e fazer com que o TNSC entre "numa fase de perfeita normalidade", disse ao PÚBLICO José António Falcão. "Sentimos que este teatro está a atingir a sua velocidade de cruzeiro".

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