Chantiers d'Europe: balanço positivo apesar das greves que perturbaram festival

Artistas portugueses que participaram, em Paris, na 5.ª edição do festival acham que valeu a pena, apesar das actuações canceladas devido à greve dos profissionais franceses do espectáculo

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Paulo Ribeiro DANIEL ROCHA

Apesar das greves que obrigaram a anular algumas representações, Emmanuel Demarcy-Mota, o promotor do festival Chantiers d'Europe, em Paris – que acolheu vários artistas e grupos portugueses –, destacou como positivo o facto de "jovens artistas terem a possibilidade de se apresentar ao público” francês e de o festival se ter "afirmado como europeu no momento de uma grande crise europeia, política e económica".

Portugal despediu-se terça-feira do festival com o espectáculo António e Miguel, do português Miguel Pereira e do italiano Antonio Tagliarini, numa 5.ª edição marcada pela greve dos profissionais do espectáculo em França.

Algumas representações foram anuladas, como os três Concertos para Bebés, de Paulo Lameiro, e os dois espectáculos Enciclopédia X, da companhia Cão Solteiro. Já Tear Gaz, do Teatro Praga, acabou por subir ao palco com um dia de atraso.

Apesar de perder a oportunidade de se estrear em Paris, a companhia Cão Solteiro solidarizou-se com os grevistas, que contestam a reforma do regime laboral dos profissionais do espectáculo prevista pelo Governo francês.

“Isto não é uma questão francesa, é uma questão europeia. Percebemos perfeitamente a luta, se bem que não seja nossa, porque um precário em Portugal não tem nada a ver com um precário em França. Mas também é verdade que o modelo francês é o mais forte e, quando for destruído, provocará um efeito dominó e em muitos outros países os trabalhadores perderão os seus direitos”, disse à Lusa Paula Sá Nogueira, da companhia Cão Solteiro.

A companhia Paulo Ribeiro pôde subir ao palco durante cinco noites seguidas, sempre com sala cheia, no Théâtre des Abbesses, um espaço do Théâtre de la Ville, que organizou o festival e é dirigido pelo franco-português Emmanuel Demarcy-Mota.

O coreógrafo Paulo Ribeiro disse à Lusa que a participação “correu muitíssimo bem, com a casa sempre cheia, cheia, cheia, o que é notável, e o público muitíssimo caloroso”, acrescentando que houve “uma maturidade que se foi ganhando nas cinco noites”.

O Chantiers d'Europe, que termina no sábado, reuniu durante quase um mês cerca de 50 artistas de Portugal, Espanha, Grécia e Itália, oriundos do teatro, da dança, do cinema, da performance e da música.

O balanço também foi positivo para a banda portuguesa Oquestrada, que subiu ao palco do Théâtre Monfort sem se esquecer de agradecer aos técnicos por terem mantido o espectáculo e apresentando ao público alguns dos temas do novo disco.

"O público francês tem um lado blasé, mas a partir do momento em que se percebe como funciona, é muito fácil. É um público muito bom porque dá para conversar com eles e percebem tudo o que eu digo. A música é uma forma de se poder conversar com o público e os parisienses são bons confidentes", disse Marta Miranda, a vocalista do grupo, cujo novo álbum se deve estrear "em breve" em França.

A companhia Teatro Praga voltou a marcar presença em mais uma edição do festival e apresentou o espectáculo "Tear Gaz", que inicialmente tinha sido cancelado.

A peça inspirou-se na Grécia e faz parte de uma trilogia sobre a Europa que será apresentada em 2015 na Culturgest, em Lisboa, explicou à Lusa o actor Pedro Penim, acrescentando que o espectáculo foi produzido especialmente para o Chantiers d'Europe a convite do Théâtre de la Ville “supondo que a Grécia estaria presente nesta edição”. 

Quanto à edição do próximo ano "é possível que seja sobre o tema da infância, da juventude e da transmissão", declarou o diretor do Théâtre de la Ville, deixando a possibilidade de Portugal voltar a estar representado.

 

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