Centro de Artes dos Açores é finalista do prémio internacional dos arquitectos britânicos

Projecto português está entre os seis seleccionados para o prémio internacional do RIBA, o Royal Institute of British Architects. O vencedor será anunciado a 24 de Novembro.

O Centro de Artes da Ribeira Grande foi inaugurado em 2015
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O Centro de Artes da Ribeira Grande foi inaugurado em 2015 Rui Soares - Colaborador
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O atelier irlandês Grafton das arquitectas Yvonne Farrell e Shelley McNamara desenhou um edifício para a UTEC – a Universidade de Engenharia e Tecnologia do Peru Iwan Baan
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Centro de Artes de Zaha Hadid em Bacu, no Azerbaijão Hufton and Crow
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Sala de concertos e biblioteca que o DRDH (Daniel Robsttom e David Howarth) concebeu para Bodo, na Noruega David Grandorge
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Museu Jumex, a casa que David Chipperfield criou na Cidade do México para a maior colecção privada de arte contemporânea latino-americana do mundo Simon Menges
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Monumento de homenagem às vítimas da Primeira Guerra Mundial perto de Arras, em Pas-de-Calais. Projecto de Philippe Prost Aitor Ortiz

O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas da Ribeira Grande, Açores, desenhado por João Mendes Ribeiro, Francisco Vieira de Campos e Cristina Guedes está na shortlist  da primeira edição do prémio internacional do Royal Institute of British Architects (RIBA).

Este projecto, que recupera e amplia uma antiga fábrica de álcool e tabaco junto à costa, resulta de uma parceria entre um atelier do Porto (Francisco Vieira de Campos e Cristina Guedes, do Menos é Mais) e outro de Coimbra (o de João Mendes Ribeiro).

Entre os finalistas estão edifícios de arquitectos como a anglo-iraquiana Zaha Hadid, que morreu em Março, e o britânico David Chipperfield.

Dos seis projectos seleccionados, quatro são dedicados à cultura (um museu e vários centros de arte, alguns com salas de concertos e até um com biblioteca), um destina-se a uma universidade e o outro a homenagear os soldados caídos durante a Primeira Guerra Mundial na região francesa de Nord-Pas-de-Calais.

O Arquipélago de João Mendes Ribeiro, Francisco Vieira de Campos e Cristina Guedes, que foi inaugurado em 2015, partilha esta shortlist com o edifício que o atelier irlandês Grafton das arquitectas Yvonne Farrell e Shelley McNamara desenhou para a UTEC – a Universidade de Engenharia e Tecnologia do Peru; com a sala de concertos e a biblioteca que o DRDH (Daniel Robsttom e David Howarth) concebeu para Bodo, na Noruega; com o monumento que o francês Philippe Prost fez para o cemitério militar de Nossa Senhora do Loreto, perto de Arras, em Pas-de-Calais; com o Museu Jumex, a casa que David Chipperfield criou na Cidade do México para a maior colecção privada de arte contemporânea latino-americana do mundo; e com o centro de Artes que Zaha Hadid assinou, um ano antes de morrer, em Bacu, a capital do Azerbaijão.

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Aparentemente simples, o edifício vai-se revelando à medida que o visitante o percorre Rui Soares

“É uma honra estar entre os finalistas do prémio porque a lista inclui arquitectos muito talentosos, com um trabalho que admiramos”, disse ao PÚBLICO João Mendes Ribeiro ao final da manhã desta quinta-feira, acrescentando que a selecção para a fase final do RIBA internacional é um reconhecimento da qualidade do projecto, mas também “da importância de construir nos Açores”.

Mendes Ribeiro, Francisco Vieira de Campos e Cristina Guedes apresentaram a sua candidatura ao prémio já este ano. O Arquipélago foi então visitado por representantes do júri escolhido pelo Royal Institute of British Architects, que depois o integraram na lista dos 30 pré-finalistas. Agora que chegou à última fase de selecção, o centro de artes açoriano deverá receber todos os jurados a 5 de Novembro (o júri visita os seis finalistas).

“Ficámos muito contentes porque estar na lista é também uma forma de reconhecimento do mérito da arquitectura portuguesa e de algo que a caracteriza – a sua capacidade para tratar as pré-existências como matéria de projecto, para trabalhar o contexto e os valores locais”, sejam eles de ordem palpável (os materiais disponíveis na região, usados  há décadas recorrendo a técnicas tradicionais) ou da ordem do intangível (valores culturais).

Diz o arquitecto Mendes Ribeiro, fazendo referência à forma como o RIBA descreve o projecto da Ribeira Grande no seu site, que o júri do prémio compreendeu muito bem “esta particularidade da arquitectura portuguesa quando olhou para o Arquipélago”.

No texto que esta organização que todos os anos premeia a excelência em arquitectura tem online pode ler-se que o centro de artes dos Açores “combina de forma hábil” restauro e reconstrução com corpos feitos de raiz, “desenhando a partir do edifício e do seu exterior característico em basalto negro para criar uma personalidade industrial contida”, e mostrando, ao mesmo tempo, “respeito pelo passado [da comunidade local] e pelas suas ambições para o futuro”.

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Os autores do projecto (da esq. para a dta.): Francisco Vieira de Campos, João Mendes Ribeiro e Cristina Guedes Rui Soares

Os arquitectos, continua o júri no site oficial do RIBA, trabalharam com uma paleta limitada de materiais para “manter o carácter industrial robusto” e sublinhar a relação entre os edifícios recuperados, que pertenciam a uma fábrica da década de 1890, e os que vieram a ser construídos.

“A planta é directa e lógica, embora um conjunto rico de espaços se vá revelando à medida que o visitante percorre o centro de artes. O projecto resulta bem numa escala urbana, demonstra habilidade na adaptação do programa, clareza na estratégia de serviço e cuidado na selecção dos materiais. O desenho combina perseverança e progresso, tradição e mudança.”

Combinar tecnologias artesanais com outras mais modernas que permitem tirar partido dos materiais disponíveis localmente foi o que fez a equipa que projectou o Arquipélago, explica Mendes Ribeiro. A “síntese” que o centro de artes reflecte – a que mistura o tradicional e o contemporâneo – é, sublinha, uma das grandes mais-valias da arquitectura portuguesa. “Assegurar esta relação com um território tão particular como é o dos Açores permitiu-nos articular uma linguagem que é claramente contemporânea com os valores locais.” Permitiu-lhes trabalhar o que existia e integrá-lo: “Esta relação com o contexto, com o lugar e os seus valores, é uma das marcas fortes da arquitectura portuguesa, em particular a da escola do Porto”, defendeu, lembrando que foi com o arquitecto Fernando Távora, de quem foi assistente durante sete anos, que aprendeu a “lidar com o que já lá está”.

O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas da Ribeira Grande recebeu já em 2016 o prémio FAD (Fomento de las Artes y del Diseño) de arquitectura. Em Abril, foi também um dos quatro projectos portugueses distinguidos na Bienal Ibero-Americana de Arquitectura e Urbanismo, que nesta edição entregou o prémio de carreira a Eduardo Souto de Moura (os outros portugueses seleccionados foram os ateliers Aires Mateus, pela sede da EDP em Lisboa e pela Casa no Tempo, do Alentejo;  e SAMI, com a casa E/C no Pico, Açores).

Os prémios atribuídos pelo Royal Institute of British Architects completam este ano meio século e incluem várias categorias. A medalha de ouro RIBA de 2017 – um prémio carreira que em 2009 foi entregue ao português Álvaro Siza Vieira – foi para Paulo Mendes da Rocha, um dos maiores arquitectos brasileiros e autor, por exemplo, do projecto de renovação da Pinacoteca de São Paulo e do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.

O Prémio Stirling, atribuído pelos arquitectos britânicos ao melhor projecto construído no Reino Unido, distinguiu este ano o atelier Caruso St. John pela Newport Street Gallery, que agrega três edifícios industriais vitorianos e os transforma numa grande galeria destinada a receber a colecção privada do artista britânico Damien Hirst.

A 24 de Novembro saberemos se é português o prémio internacional do RIBA.

Notícia actualizada às 16h.

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