CCB volta a explodir num Big Bang musical

Dois dias de concertos e aventuras, para crianças dos quatro aos 12 anos. Um festival que reúne sete países, quer facultar experiências musicais às famílias europeias e democratizar o acesso à cultura.

Foto
Na edição do Big Bang em 2013 Daniel Rocha

Mostrar um universo novo aos miúdos é o objectivo do Festival Europeu de Música e Aventura para Crianças, que desde 2010 se realiza em Outubro no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Big Bang dá a ver e a escutar espectáculos originais e inesperados. Nesta sexta-feira actua-se para escolas; no dia seguinte (18), para famílias. Na edição anterior, passaram pelo CCB 5297 pessoas.

Brinquedos que são instrumentos, objectos que emitem sons, performances que envolvem bailarinos, comboios eléctricos e tecnologias várias são algumas das propostas desta edição do festival. A premissa, explica Madalena Wallenstein, responsável pela Fábrica das Artes do CCB, é a de sempre: “Oferecer às crianças a mesma qualidade que se oferece aos adultos.” Com a expectativa de “daí advir uma educação estética”.

O PÚBLICO assistiu ao ensaio (divertido) de Ballet Mekanique, que abre o festival no Pequeno Auditório, às 10h30, em ambos os dias. Uma bailarina e seis músicos belgas partilham um palco com várias caixas de madeira de onde saem altifalantes. A manipulação daqueles mecanismos tanto se faz por manivelas, como por pedais, tudo isso conjugado com instrumentos de sopro, onde trompetes, apitos de pássaro e até línguas da sogra (normalmente usadas no Carnaval) convivem na mesma partitura. Ao fundo, um ecrã projecta uma animação. Um espectáculo baseado nas máquinas e sons futuristas concebidos por Russolo em 1913. Um universo de máquinas, mas numa ciência ainda muito primária. Não há dúvida de que se trata de uma experiência musical diferente, mesmo para quem não é criança há muito tempo.

“A performance ajuda a criar relações de causa-efeito que tornam visíveis aspectos da música. Capta os miúdos em termos de visualização de conceitos abstractos”, diz Madalena Wallenstein sobre este espectáculo, destinado a maiores de seis anos e famílias e que dura perto de 35 minutos.

O Big Bang, ao mesmo tempo que forma públicos (a especialista em educação pelas artes já fala em “crianças Big Bang”, porque há quem tenha vindo a primeira vez com cinco anos, agora já tem dez e volta sempre), também forma e divulga artistas. “O festival parte do conceito de ‘piscar o olho’ a artistas de qualidade que nunca pensaram fazer nada para crianças”, diz. Ao trabalharem no projecto, são obrigados ao exercício de transformação dos seus objectos artísticos: “Isso desafia-os a crescer. E o impacte é não só o efeito natural da pesquisa que fazem ao conceber projectos para crianças, mas também porque são lançados na Europa, uma vez que acontecem festivais Big Bang em sete países uma vez por ano”, acrescenta.

Madalena Wallenstein enumera alguns aspectos a considerar quando se sabe que se vai estar perante um público infantil. Mas não fala em “infantilizar”, antes em “estética empacotada com premissas que têm que ver com estímulos imaginários infantis”. É preciso perceber que “os ciclos de atenção são mais curtos do que nos adultos e há que ir equilibrando a disponibilidade para ouvir, seja através da imagem, da tecnologia ou de propostas de temas que têm de se ir alterando”.

Facultar experiências musicais não é apenas “seduzir para a música, é ser capaz de entrar na cognição dos miúdos, o que exige muito trabalho de pesquisa e experimentação”.

Lembra o trabalho de Carlos Bica, na edição do Big Bang de 2012, que fez “um concerto memorável” no Planetário. “Trouxe músicos tão incríveis como João Paulo Esteves da Silva, Mário Laginha ou Mário Delgado. The best do jazz nacional. Pela aventura que o festival traz, dispôs-se a trabalhar este conceito.” É este o espírito do Big Bang.

Portugal, conta, foi o primeiro país desta parceria a insistir para que houvesse um dia só para escolas. “Sexta-feira é a nossa defesa do acesso democrático à cultura. Vêm escolas que normalmente não entrariam nestes festivais. Miúdos que não viriam com as suas famílias.” Para que o universo de alunos seja o mais alargado possível, há um protocolo com o Ministério da Educação, no âmbito do Programa de Educação Estética e Artística, coordenado por Elisa Marques.

A responsável pela Fábrica das Artes quer destacar nesta edição o contributo das irmãs Joana e Rita Sá, no concerto com o título  sugestivo Dentro da Cabeça nem Tudo É Claro. Vai acontecer na Sala de Ensaio (12h e 15h30): “A Joana é uma pianista de música contemporânea que se junta à irmã, artista plástica, Rita. Fazem uma espécie de simbiose entre seres fantásticos e a música da Joana, cheia de irregularidades e surpresas. O espectáculo tem um invólucro visual muito forte e recorre a alguns instrumentos-brinquedos.” Madalena Wallenstein conclui: "Os adultos têm muito mais preconceitos musicais que as crianças, mas também se divertem no festival.”

Sugerir correcção
Comentar