Carlos Afonso Dias (1930-2010): um poeta da fotografia portuguesa

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Carlos Afonso Dias resolveu tornar-se fotógrafo quando viu uma imagem de Joshua Benoliel relativa à implantação da República Carlos Afonso Dias

Morreu ontem o fotógrafo Carlos Afonso Dias, que fazia parte de um grupo de autores que, como Gérard Castello Lopes, António Sena ou a dupla Vítor Palla/Costa Martins, procuraram, nos sombrios anos 50, abrir novos caminhos à fotografia portuguesa.

Nascido em 1930, engenheiro geógrafo de profissão, resolveu tornar-se fotógrafo quando viu uma imagem de Joshua Benoliel relativa à implantação da República. “Ele olhou para aquela fotografia, que tinha uma parte tremida à frente, e foi aí que se decidiu”, diz o fotógrafo José Manuel Rodrigues, seu amigo, que valoriza, no trabalho de Carlos Afonso Dias, uma forte componente lírica – “foi um grande poeta” –, mas também “a disciplina, o rigor da luz e da composição”.

Realçando que, na sua geração, foi dos fotógrafos que mais trabalhou com temas livres, e considerando que, para o seu tempo, foi um vanguardista, Rodrigues lembra também o feitio “discreto e tímido” deste admirador de Henri Cartier-Bresson, que foi uma das suas grandes influências.

Oposicionista ao Estado Novo – integrou o Movimento de Unidade Democrática –, Carlos Afonso Dias foi um grande viajante, tendo fotografado não apenas o seu país, mas também várias cidades europeias e Nova Iorque. Trabalhou ainda em Angola, mas boa parte dos negativos que testemunhavam a sua passagem pela então colónia ultramarina vieram, infelizmente, a perder-se.

Na década de 50, reunia-se regularmente com um grupo de fotógrafos em casa de Castello Lopes. “Eles juntavam-se, combinavam um tema, e depois iam fotografar”, diz José Manuel Rodrigues, que foi prémio Pessoa em 1999.

No pós-25 de Abril, Carlos Afonso Dias desinteressou-se bastante da fotografia e poucos conheciam o seu trabalho anterior. Foi só no final dos anos 80, com uma exposição retrospectiva na galeria Ether, e pela mão de António Sena, que a sua obra dos anos 50 e 60 foi redescoberta.

Animado pelo sucesso dessa exposição – a Colecção Nacional de Fotografia adquiriu então seis imagens da sua autoria –, voltou à sua paixão pela fotografia e realizou ainda mais quatro mostras individuais. A última, Fotografias 1956-2008, teve lugar há dois anos na galeria Pente 10, em Lisboa. Mas Carlos Afonso Dias continuava a fotografar e, conta José Manuel Rodrigues, “andava agora a usar o digital, e estava maravilhado com aquilo, o que é espantoso”.

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