Canções com princípio, sem meio, e fim

A norte-americana Angel Deradoorian não receia ângulos e movimentos inesperados.

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Cantora e multi-instrumentista, a norte-americana Angel Deradoorian não é propriamente uma desconhecida. A sua voz é facilmente identificável de algumas das mais ilustres canções dos Dirty Projectors, o magnífico grupo liderado por Dave Longstreth. Mas não só. Grupos tão diversos como os Vampire Weekend, Flying Lotus, Matmos ou U2 já contaram com a sua prestação.

Em 2009 já havia lançado o interessante EP Mind Raft, nessa altura enveredando por uma sonoridade simples e despojada, talvez como reacção às canções complexas, com diversas camadas, que constituíam a imagem de marca do seu grupo de então, os Dirty Projectors. Dir-se-ia que no álbum de estreia se posiciona entre as duas leituras, com canções que evocam alguma da sofisticação melódica e orquestral dos Projectors, mas ao mesmo tempo apostando numa dimensão mais directa e onírica. 

A maior parte das canções são povoados por elementos resgatados a diversas escolas – psicadelismo, minimalismo, krautrock, pop ou jazz – mas existe sempre um centro transparente e a sua voz cristalina domina as operações. Mas na maior parte dos temas existe uma recusa de estruturas clássicas. Dir-se-iam canções com princípio, sem meio e fim. Canções que parecem conter várias canções, onde ela toca quase todos os instrumentos que se ouvem no disco. É uma música que não receia ângulos e movimentos inesperados, com a voz de Angel sublinhando quer o desejo de criar inocentes cantigas de embalar como cantilenas ritualísticas com qualquer coisa de experimental. 

Há algo por aqui dos impulsos rítmicos hipnóticos dos históricos alemães Can ou Neu!, como da segunda ou terceira vaga de projectos influenciados por aqueles, como os Stereolab ou Broadcast, mas mesmo assim Deradoorian é outra coisa mais singular. Existem por aqui melodias em miniatura de encantar, exóticas polifonias vocais e um apurado sentido de tempo e espaço, com um caleidoscópico de partículas abstractas que nunca nos desviam do núcleo das canções, misto de sonhos tão intimistas quanto surrealistas, num óptimo álbum de estreia.

A beautiful woman
The eye
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