Canção para Marguerite Duras

Uma exposição na biblioteca do Centro Pompidou, em Paris, comemora o centenário do nascimento da escritora e cineasta.

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O argumento original de India Song, anotado até à exaustão, é das peças mais mediáticas de quantas constituem a exposição Duras Song, que o Centro Georges Pompidou, em Paris, mostra até 12 de Janeiro no seu espaço de biblioteca. Não será por acaso, de resto, que os responsáveis pela exposição – o crítico Jean-Max Colard e a artista de origem vietnamita Thu Van Tran – escolheram aquele título. India Song, que começou por ser uma peça de teatro, em 1972, e três anos depois foi adaptada ao grande ecrã pela própria Marguerite Duras (1914-1996), é uma das obras de referência da produção criativa da escritora e cineasta, cujo centenário do nascimento se comemora este ano.

Inaugurada este mês, Duras Song tem como subtítulo Portrait d’une Écriture (Retrato de uma escrita), e apresenta-se, de facto, como mostra das expressões mais diversas com que Duras transformou a sua vida num acto permanente de escrita. O dispositivo simultaneamente cénico, narrativo e, digamos, performativo da exposição é um cubo, com um lado de fora e um lado de dentro, as duas dimensões que os responsáveis quiseram captar – e expor – da vida e da obra da autora de Barragem Contra o Pacífico.

“Esta não é uma exposição sobre a Marguerite, é uma exposição sobre Duras”, ao mesmo tempo íntima e política, aberta para o mundo exterior e fechada nas suas experiências, disse ao jornal Le Figaro Jean-Max Colard. “Quisemos retratar o espaço da escrita com um muro exterior que representa o 'fora', segundo o conceito da própria Duras, e o seu espaço interior”, acrescentou o comissário e crítico.

Assim, para o lado de fora, Thu Van Tran concebeu uma parede azul-de-metileno, onde se expõe a vida pública de Duras: a lutadora da Resistência contra o nazismo, a passagem pelo Partido Comunista, a oposição à Guerra na Argélia… No interior, recriando um décor inspirado no apartamento que a escritora comprou, e onde viveu e trabalhou, no Palacete das Rochas Negras, projectado pelo arquitecto Robert Mallet-Stevens em Trouville-sur-Mer, na Normandia, são expostos manuscritos e dactiloscritos da sua obras, mas também artigos de imprensa, fotografias de estúdio e materiais audiovisuais, entre os quais um documentário de 35 minutos com uma síntese da sua obra. Na sua maioria, os documentos foram cedidos pelo Institut Mémoires de l’Édition Contemporaines, que guarda o grosso do espólio da escritora de O Amante.

Através desse cubo, India Song torna material o próprio processo de escrita de Duras, explica Thu Van Tran, também citada por Le Figaro: “Visualmente, percebemos que Marguerite Duras projecta a sua escrita no texto, no som. Compreendemos a sua maneira de retrabalhar o texto e de a ele regressar em permanência."

 

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