Caixa de Pandora: levar as pessoas a viajar “até ao âmago das suas memórias e emoções”

Criador de uma “ficção auditiva” própria, o trio Caixa de Pandora apresenta esta sexta-feira no Museu da Música o CD de estreia, Teias de Seda.

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Rui Filipe, Sandra Martins e Cindy Gonçalves Ricardo Quintas

A capa do disco simula uma caixa de madeira com puxador metálico e a chave (desenhada, claro) vem impressa no próprio CD. Não é preciso dizer mais: Caixa de Pandora revela-se quando toca e toca quem ouve.

São um trio Rui Filipe (piano), Cindy Gonçalves (violino, glockenspiel, shaker) e Sandra Martins (violoncelo, clarinete, flauta) que partilha formação clássica e o interesse pelas chamadas músicas do mundo, sem fronteiras definidas. Esta sexta-feira, às 21h30, apresentam no Museu da Música, em Lisboa, o seu disco de estreia, Teias de Seda.

Conheceram-se no projecto Rosa Negra. Filipe trabalhou com Cindy no primeiro CD deste grupo, Fado Ladino. “A partir daí”, diz ele, “começámos a ter empatias e a desenvolver até outros projectos paralelos, com outros músicos.” Como Cindy já trabalhara com Sandra antes mesmo de conhecer Filipe, ela acabou por se juntar também ao grupo e tocar no seu segundo disco, Fado Mutante. Tudo isto começou antes, explica Filipe. “Pouco antes de nos conhecermos, comecei por criar um selo, com um sócio, a que chamámos MPP, Música Popular Portuguesa. Daí nasce o [grupo] Xaile, nasce o Rosa Negra e alguns projectos que tinham a ver com uma matriz lusa mas com uma abrangência da diáspora portuguesa, das nossas raízes. Um deles mais ligado a um fado sefardita, que ia muito à cultura moçárabe.” Quando o trio começa a trabalhar, diz, “as empatias eram bastantes. Fizemos tanta coisa juntos, e cada um por si, que isso veio ter às nossas composições.”

Há cerca de um ano, concluíram que o trio podia ter vida autónoma. E é assim que nasce Caixa de Pandora. E as suas composições, todas instrumentais, nascem também desta ligação. “Digamos que eu venho grávido e elas são parteiras. Eu sempre trabalhei como compositor, é a génese do meu trabalho. E elas acrescentam ideias, de coisas que viram.”

Oriente, uma constante
O facto de ser um grupo instrumental podia limitar-lhe os passos. Mas têm-se apercebido de que isso pode até ser uma vantagem. “Descobrimos que a nossa música é usada em companhias de bailado no oriente, em companhias aéreas da Índia, em documentários…”

Para chegarem ao género de música que fazem, onde influências eruditas e populares, cinéfilas e teatrais, se misturam, elas juntam o que desde o seu passado os tem marcado.

Rui Filipe cita Stravinsky, Ravel, Berlioz (“uma série de autores que eu vou ouvir de vez em quando para me refrescar”) mas também Nitin Sawhney ou música judaico-ibérica. Cindy, como ele, foi educando o gosto musical “numa grande mistura”. Cita Sarasate ou Stravinski, mas tenta “sempre descobrir algo de novo”. Sandra, por seu turno, aponta uma “pessoa muito importante” no seu percurso, o violoncelista holandês Ernst Reijsege. Fez um workshop com ele, há sete ou oito anos. “Tem uma linguagem entre o erudito e o jazz mas faz muitas participações com cantores do Mali e do Senegal. Foi com ele que eu senti que queria mesmo fazer uma coisa diferente, fora da música clássica.” Além disso, há um músico que todos eles “veneram”, sem hesitar: o pianista arménio Tigran Hamasyan.

Em 2015 têm já vários concertos marcados fora de Portugal: Índia, China, Bélgica. “O nosso público no Oriente tem sido uma constante.” Hoje tocarão a Ocidente, em Lisboa. De quem os ouve, esperam que os acompanhem numa viagem. “Eu informo as pessoas que o teletransporte já existe”, diz Rui Filipe. “Propomos levá-las connosco, no nosso veículo sonoro, para irem até ao âmago das suas memórias e emoções. E deixarem-se levar.”

 

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