Os Encontros da Imagem também são uma celebração para Braga
O principal festival de fotografia do país questiona, a partir de quinta-feira, o lugar das crenças a partir de obras de Joan Fontcuberta ou Natan Dvir. Fé e Esperança é o tema, mas o programa deste ano dá também mais espaço à festa.
Foi a capacidade de atrair artistas como Joan Fontcuberta, Natan Dvir ou Christian Lutz, convidados na edição deste ano, que fez dos Encontros da Imagem o principal festival de fotografia do país. Mas esta é também uma celebração para Braga, a cidade que o acolhe pela 24.ª vez e que a partir desta quinta-feira vive três dias de festa para assinalar o seu arranque - e que reforça a programação paralela para atrair novos públicos.
Esta nova edição dos Encontros da Imagem tem como mote Fé e Esperança. “Queremos é questionar o lugar que o homem tem no mundo, a partir de um inventário de várias crenças”, explica a directora do festival, Ângela Ferreira. A intenção “não é dar-lhe um carácter religioso. Isso Braga já tem”, comenta. No entanto, a marca religiosa da cidade vai estar associada à programação deste ano, que arranca precisamente dentro de uma igreja.
O artista visual João Martinho Moura foi convidado a criar uma peça interactiva, feita de projecções de luz e som, a partir do tema do festival e que será apresentada esta quinta-feira a partir das 21h30 na Igreja de Santa Cruz. A inusitada abertura do festival dará o mote para um fim-de-semana inaugural onde haverá várias propostas que não estão directamente relacionadas com a fotografia. “Temos que ser capazes de nos reinventarmos e de continuar a atrair um público novo e diferente”, defende a directora do festival, confiante de que os espectadores habituais “estão fidelizados”.
Nestes primeiros dias abre um mercado de livros de fotografia de autor (quinta-feira, às 22h30, no Arquivo Janes), uma das novidades desta edição que partiu de um desafio a pequenos editores e que recebeu mais de 400 candidaturas. De seguida, no mesmo espaço, tem lugar a festa I Like Purple. No sábado, chega a música com o concerto de Scott Matthew no Theatro Circo, integrado na gala de atribuição do prémio internacional de fotografia Emergentes dst, que volta a estar associado ao festival.
Na sexta-feira e sábado acontece o clássico percurso de inaugurações do festival nos 13 espaços da cidade que acolhem as obras dos quase 50 artistas convidados. O ponto de partida (sexta, 15h) é o Museu da Imagem, onde está Miracles& Co, de Joan Fontcuberta, a grande figura do festival deste ano. O artista catalão ocupa um lugar particular no panorama da fotografia contemporânea e nesta série parte de uma incursão pela Carélia, a região mais meridional da Finlândia e onde a Igreja Ortodoxa integrou vários cultos pagãos nos seus ritos, para questionar a verdade dos milagres.
O mapeamento de crenças que o festival procura fazer é também a matéria de Belief, do fotógrafo israelita Natan Dvir, que retrata manifestações políticas e eventos religiosos um pouco por todo o mundo (Salão Medieval da Reitoria). In Jesus' name, um trabalho de Christian Lutz a partir de uma residência com uma comunidade evangélica, é outra das propostas da edição deste ano.
O Mosteiro de S. Martinho de Tibães volta a ser um dos locais centrais de apresentação das exposições do festival, que se prolonga até 31 de Outubro. A realização, no final do mês, da reunião dos nove chefes de Estado da União Europeia sem funções executivas - o grupo de Arraiolos - condicionou os Encontros da Imagem, que este ano utilizam locais alternativos como a adega daquele monumento. Ainda assim, aquele espaço recebe 13 exposições, entre as quais se destacam os portugueses Inês D’Orey, Valter Vinagre e Tito Mouraz.