Black Hand faz graffiti sobre os problemas do seu país nas ruas de Teerão

Associado ao britânico Banksy pela sua técnica e estética, Black Hand esconde a sua identidade para pintar no Irão que, como muitos países, criminaliza o graffito. Mas é o único país no mundo onde a comercialização de órgãos é legal.

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Obra de Black Hand em Teerão DR
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Obra de Black Hand em Teerão DR

Banksy é o writer de graffiti britânico de que todos falam – ninguém sabe quem é e a ironia e carga política que põe nos seus trabalhos distinguem-no. Black Hand é também graffiter, mas iraniano, e começa a habituar-se às comparações com o inglês. Também ele faz stencil, desta feita nas ruas de Teerão e também elas são mensagens políticas. Também ele esconde a sua identidade.

O que Black Hand aprendeu com Banksy foi que para um graffito se manter desconhecido, a técnica do stencil é um aliado. “Perguntei-me como é que o Banksy poderia encaixar-se na realidade política e sócio-cultural iraniana. Precisava de uma técnica que me permitisse criar num muito curto período de tempo”, explica em entrevista ao Guardian.

“Eu escondo a minha identidade por questões de segurança. Segundo a lei iraniana, escrever nas paredes ou publicitar alguma ideia sem autorização oficial é crime”, diz o artista urbano. Em 1979, a intervenção política através dos murais tornou-se comum no Irão, quando jovens revolucionários escreviam palavras de ordem nos edifícios públicos. Hoje, qualquer inscrição que não seja patrocinada ou autorizada pelo Estado deve ser apagada.

As autoridades iranianas não se esquecem disto: em poucas horas qualquer obra de Black Hand – ou de qualquer outro artista urbano em Teerão, e há mais – é rasurada com tinta vermelha numa primeira fase, e depois coberta com a tinta original da parede.

Foi o que aconteceu em Junho, quando Black Hand pintou uma mulher com uma t-shirt da selecção iraniana de futebol erguendo um garrafa de detergente da louça em que se lê Jaam, a palavra para "taça dos campeões" em persa. O graffito lembrará qualquer iraniano que não é permitida a entrada de mulheres nos estádios de futebol – o seu campeonato são os trabalhos domésticos. Poucas horas depois, a obra estava pintada de vermelho e pouco tempo depois a parede estava de novo toda cinzenta, o que não parou no entanto a partilha de fotografias de quem foi a tempo de registar o stencil. As partilhas e comentários nas redes sociais intensificaram-se quando no mesmo lugar em que fora pintada a rapariga que foi prontamente rasurada a vermelho apareceu a imagem de um jovem conservador com uma paleta e um pincel sujos de vermelho que alegremente escreve The End na parede. Ao fundo, a assinatura: Black Hand.

“Eu trabalho os problemas do meu país. Acordamos com eles, vivemos com eles e adormecemos com eles. A arte, expressando estes problemas por si só, pode ajudar-nos a encontrar paz”, disse Black Hand ao jornal britânico Guardian sobre o que pinta e o porquê de o fazer nas paredes da rua. “A vida na cidade é o que me motiva. Tenho mais liberdade para desenvolver ideias e para as expressar nesta forma de arte”, continua.

“O público tem o direito de ter acesso à arte. Escolho as ruas porque me mantenho contra o monopólio das galerias. Os nossos intelectuais e artistas estão a subestimar e a ignorar o poder das pessoas comuns”, diz acrescentando que “a cidade é a maior galeria com o mais alargado público”.

Black Hand explica que a rua é o seu habitat natural, o que não é contraditório com a exposição que fez em Abril: a mostra aconteceu no centro da capital iraniana num edifício abandonado que pertencia à Sociedade de Preservação Histórica por causa da sua arquitectura única. As autoridades decidiram entretanto que o edifício era demasiado pequeno e a solução foi demoli-lo. Enquanto isso não acontecia, o graffiter pensou cada sala da casa em torno de uma questão social, tudo isto feito clandestinamente.

Entre as inscrições murais que não são apagadas pelas autoridades estão as de uma parede perto do hospital de Hasheminejad, em Teerão. Todas elas mostram um número de telefone associado a uma idade e um tipo de sangue. São classificados para a venda de rins. O Irão é o único país do mundo onde a comercialização de órgãos é legal e as classes mais pobres competem para fazer negócio. Da mesma maneira que se pintaram esses números de telefone na parede, Black Hand pintou dois homens de fato e gravata a leiloar um rim. Só que esta última foi apagada em poucas horas.

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