Bill Plympton ensina a fazer animação low-cost

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A independência é uma das coisas que Bill Plympton mais preza Pedro Cunha/PÚBLICO

O Dogma Plympton é um breve compêndio de regras para fazer curtas de animação de forma barata. O realizador americano contou tudo na Monstra

O desenho no bloco tamanho familiar erguido no palco não engana: The Bill Plympton Show foi ali, numa sala do Cinema São Jorge, para ver filmes e aprender o segredo do seu sucesso. Bill Plympton, realizador incorrigivelmente independente, ensinou a cerca de 100 estudantes de animação, animadores e outros aficionados a sua fórmula. Quer saber como fazer curtas de animação com pouco dinheiro? Ele diz-lhe como.

A resposta está no bloco: é o Dogma Plympton e qualquer semelhança com o cinema dinamarquês de meados dos anos 90 é pura coincidência. O realizador americano, que viu um dos seus primeiros filmes como candidato ao Óscar de Melhor Curta de Animação ("Your Face", 1985), deu terça-feira uma masterclass na Monstra - Festival de Animação de Lisboa sobre fazer animação low-cost.

Entre a exibição de alguns dos seus filmes - o delicioso Santa: "The Fascist Years" (2009), com voz de Matthew Modine, "Hot Dog" (2008), o trailer de "Idiots & Angels" (2008) ou Mexican Standoff (videoclip) - e a estreia europeia de "The Cow Who Wanted to Be a Hamburger", enumerou as três regras basilares do Dogma Plympton.

Regra 1: manter o filme curto, pensar numa duração ideal de cinco minutos. Regra 2: manter o filme barato - "Eu trabalho com mil dólares por minuto. Hot Dog custou cinco mil dólares. É claro que se quiserem pôr uma música dos Beatles, isso torna tudo mais caro." Regra 3: ser engraçado - "Toda a gente quer rir. Pensem que a vossa companhia aérea, a TAP, compra e exibe curtas de animação engraçadas. É uma potencial compradora." Bill Plympton não aceita dinheiro do Estado ou de investidores. "Todo o dinheiro vem das vendas de outros filmes e é assim que me mantenho independente", diz.

Plympton dá o seu exemplo de um ideal de filme barato, curto e engraçado. Via desenho, claro, porque durante toda a masterclass o realizador desenhou as suas personagens, membros do público ou a si mesmo. Um pequeno veado começa a tomar forma. Por cima dele, um cilindro. É a sua interpretação de "Bambi meets Godzilla", de Marv Newland, um filme de cerca de um minuto feito durante um fim-de-semana com apenas 12 desenhos em que nada acontece: "Godzilla simplesmente esmaga o Bambi", resume Plymtpon. O filme, que custou uma ninharia, fez cerca de 100 mil dólares de receita. "O meu sonho é fazer um "Bambi meets Godzilla"", riu-se.

Primeiro uma boa ideia

Durante a tarde de terça-feira, que acabou com Plympton a vender os seus DVD, a exibir o vinho Niepoort do Douro, cujos rótulos ilustrou, e a oferecer desenhos a todos na assistência, o realizador norte-americano também mostrou um inédito, as primeiras imagens ainda sem cor de Cheatin", que deve lançar no próximo ano. Este filme é feito sob o Dogma Plympton e segundo os seus métodos bem precisos: "Tudo tem de começar com uma boa ideia" e depois é tudo desenhado (por ele) a lápis, passa pelo scanner para migrar para o computador, onde é colorido. Como desenha tudo, há "um perigo"para as personagens nos seus filmes - "desenho-as centenas de vezes e elas vão mudando e tenho de ter atenção para que não mudem de mais ao longo de um filme".

Bill Plympton, por duas vezes nomeado para os Óscares (a segunda foi em 2005, com "Guard Dog") e vencedor do Grande Prémio de Curtas em Cannes, bem como do prémio carreira no Fantasporto de 2006, cresceu no Oregon, "onde chove muito". De lá saíram também Matt Groening, o sr. Simpsons, Seth MacFarlane (autor de Family Guy, American Dad e Cleveland Show) ou Brad Bird (o realizador de "Ratatui" e "Iron Giant"). "Há qualquer coisa na chuva que faz bons cartoonistas", acrescentou o realizador.

É um fã de storyboards, que insiste em tornar muito detalhados, e não conseguiu ainda adaptar a sua fórmula em três passos às longas-metragens. Vende o seu trabalho a cinemas, a instituições públicas e privadas, às televisões (sobretudo na Europa), edita em DVD, lança na Internet e faz merchandise dos seus bonecos. Recomenda aos neófitos "o circuito dos festivais", onde estão todos os agentes do mercado e se pode ter a sorte de dar nas vistas. E deixa a frase lapidar: "Os cartoons podem ser muito poderosos, fazer-nos pensar de forma diferente, dar-nos novas ideias."

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