Ben Affleck quis esconder que os seus antepassados foram donos de escravos

Actor e realizador participou numa série televisiva documental que vai à descoberta da história da família dos seus convidados. Affleck não quis que se contasse tudo.

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Programa foi para o ar em Setembro, omitindo a informação pedida por Affleck Reuters

É mais uma das revelações do ataque informático sem precedentes à Sony. A Wikileaks revelou novos documentos, entre os quais está uma troca de e-mails entre Ben Affleck e os produtores do programa Finding Your Roots (À Descoberta das Tuas Raízes, numa tradução livre) em que o actor e realizador pede para que se omita que os seus antepassados foram donos de escravos.

Ben Affleck tinha aceitado fazer parte do programa que a cada episódio tem um novo convidado, cujas raízes são investigadas. No entanto, o realizador de Argo, que venceu o Óscar de melhor filme em 2013, enviou um e-mail aos produtores a pedir que alguns detalhes da sua história fossem escondidos. Na troca de e-mails agora divulgada, produtores e o apresentador de Finding Your Roots, o reputado professor Henry Louis Gates, especialista em Estudos Afro-Americanos na Universidade de Harvard, discutem o pedido.

Henry Louis Gates não fica agradado com o facto de Affleck querer esconder parte da sua história mas o programa acabou por ir para o ar em Setembro do ano passado omitindo que os antepassados do actor, que é também um defensor dos direitos humanos, foram donos de escravos.

“Eis o meu dilema: confidencialmente, pela primeira vez, um dos nossos convidados pede-nos para editar uma coisa sobre os seus antepassados — o facto de que foram donos de escravos”, escreve Gates num dos e-mails. “Quatro ou cinco dos nossos convidados nesta temporada são descendentes de donos de escravos, incluindo Ken Burns. Nunca tivemos ninguém a tentar censurar ou a editar o que descobrimos. Ele [Ben Affleck] é uma superestrela. O que fazemos?”, continua o e-mail do apresentador do programa para o CEO da Sony Pictures, Michael Lynton.

Em resposta, Lynton pergunta a Henry Louis Gates quem mais sabe sobre o passado de Affleck, admitindo que a questão levantada pelo actor e realizador é complicada por “comprometer a integridade editorial” do programa. “Assim que abrirmos a porta à censura, perdemos o controlo da marca”, respondia o apresentador. A verdade é que o programa foi para o ar conforme Affleck havia pedido.

Depois de a polémica ter estalado nos últimos dias, o professor de Harvard emitiu um comunicado onde não falou de censura mas sim de escolhas. “Eu mantenho o controlo editorial em todos os meus projectos e, com os meus produtores, decido o que é que tornará o programa mais atractivo. No caso de Ben Affleck, focámo-nos naquilo que sentimos que eram os aspectos mais interessantes dos seus antepassados — incluindo um antepassado da Guerra Revolucionária, um tetravô que era entusiasta do oculto, e a sua mãe, que marchou pelos direitos humanos no chamado “Verão da Liberdade", em 1964”, justificou Gates.

Também o canal PBS, onde passa esta série documental, emitiu um comunicado a defender a seriedade do seu apresentador. “Ele disse-nos que depois de rever aproximadamente dez horas de filmagens para o episódio, ele e os seus produtores tomaram a decisão editorial independente de escolher a narrativa mais convincente.”

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