Auto-retrato de Van Dyck foi “salvo” no Reino Unido por aqueles que o querem ver: os cidadãos

É o último auto-retrato do mestre flamengo e poderia estar prestes a viajar para os Estados Unidos para casa de um coleccionador privado. Vai ficar na National Portrait Gallery, em Londres.

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Este auto-retrato foi feito pelo artista meses antes de morrer DR

Estava em mãos privadas e assim iria continuar se não se tivesse iniciado uma campanha pública para não deixar fugir do Reino Unido aquele que é o último auto-retrato de Anton Van Dyck (1599-1641). A National Portrait Gallery, em Londres, conseguiu juntar 10 milhões de libras (cerca de 12 milhões de euros) para comprar esta importante obra de arte para a sua colecção, depois de ter lançado em Novembro do ano passado uma campanha de angariação de fundos.

Em mãos privadas quase desde sempre, o auto-retrato que Van Dyck pintou no seu último ano de vida foi vendido no ano passado ao coleccionador de arte James Stunt, um milionário britânico que vive em Los Angeles. O negócio entre os coleccionadores privados foi feito mas quando o proprietário actual informou o Governo britânico da saída da obra, a licença de exportação foi-lhe vedada, tendo-se iniciado imediatamente várias manifestações públicas contra a saída da pintura do Reino Unido.

Ao perceber o impacto que o negócio teve na opinião pública e ao testemunhar “a paixão das pessoas” na luta por manter o auto-retrato em terras britânicas, James Stunt decidiu em Março retirar a reclamação que tinha interposto para que a obra viajasse para sua casa e o seu proprietário original mostrou-se disponível para negociar a venda à National Portrait Gallery, instituição londrina que lançou a campanha de angariação de fundos assim que a expedição da obra foi vedada, ou seja, em Novembro do ano passado.

Nessa altura, a instituição procurava obter 12,5 milhões de libras (15 milhões de euros), o valor que Stunt pagaria pela obra, mas o proprietário em Março desceu o preço para os dez milhões de libras (12 milhões de euros) para facilitar o objectivo da National Portrait Gallery.

Com a falta de orçamento estatal para comprar a obra, a National Portrait Gallery iniciou então a campanha de angariação de fundos e conseguiu ainda mobilizar o Heritage Lottery Fund, o fundo que canaliza para o património uma parcela das receitas dos jogos sociais. Foi, aliás, graças à ajuda deste fundo que destinou para este negócio 6,3 milhões de libras (7,7 milhões de euros), que a compra se tornou possível em tão pouco tempo. A somar a isto, destaque ainda para a participação dos cidadãos que ao longo destes meses ajudaram com 1,44 milhões de libras (1,7 milhões de euros). A Art Fund (organização não governamental de apoio às artes) ofereceu também 500 mil libras (aproximadamente 609 mil euros) e a própria National Portrait Gallery investiu 700 mil libras (852 mil euros). Houve ainda duas empresas privadas ou dois privados – não se sabe ao certo, uma vez que as identidades ainda não foram reveladas –, que ofereceram 1,2 milhões de libras (1,5 milhões de euros).

E assim se fez a campanha de angariação de fundos pública para a compra de uma obra de arte mais bem-sucedida na história do Reino Unido, como escreve esta quinta-feira o The Telegraph. Esta foi também a ideia defendida por Stephen Deuchar, director do Art Fund, que destacou ainda a participação das mais de dez mil pessoas nesta iniciativa.

Foi para os muitos cidadãos que se mobilizaram que Sandy Nairne, director da National Portrait Gallery, também direccionou as suas palavras de agradecimento. Para o director era importante que se mantivesse no Reino Unido a obra daquele que foi “um dos maiores artistas” a trabalhar no país. “Nenhum outro artista teve tanto impacto no retrato britânico”, destacou à BBC, enumerando o estilo “distintivo” de Van Dyck, que “dominou” a arte do retrato até ao século XX.

Este é apenas um dos três auto-retratos que Van Dyck pintou em Inglaterra – um está na posse do Duque de Westminster e o outro, em que o pintor está na companhia do seu amigo Endymion Porter, encontra-se no Museu do Prado, em Madrid.

Há 300 anos que o auto-retrato do pintor flamengo fazia parte da colecção particular do conde de Jersey, mas em 2009 a obra, acabada meses antes de Van Dyck morrer aos 42 anos, foi a leilão em Londres, acabando por ser arrematada por 9,1 milhões de euros. Já na altura houve museus e galerias interessadas, mas o baixo orçamento para aquisição de novas obras não permitiu que o auto-retrato integrasse qualquer colecção pública.

A pintura ficará agora em exposição na National Portrait Gallery até ao final de Agosto, antes de ser exposta em várias cidades do Reino Unido como Newcastle, Birmingham ou Edimburgo.

No site da campanha é possível conhecer não só toda a história desta obra, como também perceber como aconteceu todo este processo.

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