Até ao próximo domingo, a palavra sai à rua no Festival Silêncio

Haverá concertos e exposições, cinema e artes plásticas, sessões de poesia e feiras de alfarrabistas. Dois anos depois, o Festival Silêncio está de regresso. Desta quinta a domingo, o Cais do Sodré, em Lisboa, abre-se para acolher mais de 150 eventos.

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B Fachada é um dos músicos que actuará no Largo de São Paulo, em Lisboa, integrado no Festival Silêncio Miguel Manso

Chama-se Festival Silêncio para que possamos sorver e apreciar melhor a palavra. A palavra escrita e declamada, cantada, inscrita nas paredes ou sugerida numa fotografia. Depois de dois anos de ausência, por dificuldades financeiras, está de regresso. E regressa em grande: desta quinta-feira, dia 2, até domingo, dia 5, o festival tomará as ruas, as praças e vários estabelecimentos no Cais do Sodré (com extensão à Estrela, a Campo de Ourique ou ao Parque das Cebolas). São mais de 150 eventos ao longo de quatro dias.

A abertura acontece esta quinta-feira às 22h, na Praça de São Paulo, com os Lisbon Poetry Orchestra, o colectivo onde encontramos os músicos Alexandre Cortez, Filipe Valentim, Tiago Inuit e Luís Bastos e os actores Miguel Borges, Nuno Miguel Guedes e André Gago. Interpretarão poemas surrealistas de Mário Cesarinny ou Alexandre O’Neill - sendo poesia que libertou a palavra e a imaginação, será o mote ideal, portanto, para o que acontecerá ao longo destes quatro dias.

No Largo São Paulo, um dos centros do festival, os concertos, todos eles de músicos que cuidam os versos das canções com esmero, começam ao final de tarde e prolongam-se. Sexta, dia 3, ali veremos Medeiros/Lucas (20h) ou Manel Cruz com a sua Estação de Serviço (22h), que apresentou recentemente, por exemplo, no NOS Primavera Sound. No dia seguinte, os Couple Coffee, às 21h, antecedem o concerto de B Fachada (22h), e, no domingo, há música a partir das 17h. Gisela João, às 22h, fecha um dia que conta também com Zeca Medeiros (20h) ou Reportório Osório (19h).

Mas neste festival que se deseja vivido na rua, colocando a população local em convívio harmonioso com os forasteiros ao bairro, a caminhada é obrigatória. Procura-se uma exposição numa galeria e, noutra porta, deparamo-nos com uma sessão de poesia. Enquanto caminhamos, deixamos cair os olhos sobre as paredes e os versos nelas inscritos. Podemos até seguir roteiros - há-os dedicados a Pessoa ou Saramago - ou perdermo-nos entre livros nas feiras de alfarrabistas e de edição independente que serão montadas no espaço BV90, no Jardim D. Luís ou na ETIC. Estes dois últimos acolherão igualmente concertos de nomes como Éme, Cão da Morte, Iguanas, Cachupa Psicadélica, Senhor Vulcão ou Putas Bêbadas.

Enquanto isso, a rua cor-de-rosa será palco, entre sexta e domingo, de poetry slam ininterrupta, aberta a quem quiser tomar conta do microfone. E no Povo, na tarde de quinta, pode, por 6 euros e mediante inscrição (936243762), aprender tudo sobre bordados e serigrafia com as senhoras do projecto local A Avó Veio Trabalhar. Feito o trabalho de artesão, pode ser boa ideia passar pela Galeria Boavista, onde estará patente a exposição "Qual o Significado da Poesia" (47 poetas europeus responderam em forma de fotografia), e assistir aos filmes ali exibidos, integrados no ciclo “Isto não é um filme. É um poema”, ou acompanhar as sessões dedicadas a poesia portuguesa e de outras latitudes.

Os dias não acabarão quando a noite chegar definitivamente. Por essa altura, será tempo de recolher. Da rua para o Musicbox, para o Lounge ou para o Sabotage. No primeiro, poderemos ver, na noite de quinta-feira, Cakes da Killa, nome ligado ao queer rap, ao lado de, por exemplo, Mykki Blanko, na de sexta, os Ermo, e, na de sábado, o encontro entre JP Simões e Samuel Úria. No Lounge actuam sexta-feira Valapraia e as Rainhas do Baile. No mesmo dia, no Sabotage, Tó Trips junta-se a Tiago Gomes para dar música e voz a Jack Kerouac. Enquanto isso, o clube de strip Menage junta-se à festa para apimentar a noite. Durante o festival, as sessões de striptease serão acompanhadas da declamação de poesia erótica.

Ao longo de quatro dias, o habitualmente repleto Cais do Sodré encher-se-á ainda mais. Uma outra vida. O silêncio falará bem alto. Todas as informações aqui.

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