“Às vezes devíamos ter a coragem de assumir que a culpa não é só dos outros”

Fado Veneno, o novo disco da fadista Luísa Rocha, tem esta sexta-feira a primeira apresentação em sala, no ciclo Há Fado no Cais. Será no CCB, às 21h.

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Luísa Rocha: "Vou tentar trazer o melhor de mim” ao CCB DR

Já lá vão quatro anos desde que Luísa Rocha se estreou em disco a solo, com Uma Noite de Amor, que teve como “padrinho” (e produtor musical) o violista Carlos Manuel Proença. Por sinal filho de uma das vozes do fado que ela mais ouvia na infância, Maria Amélia Proença. Esta, a par de Amália, Marceneiro, Carlos do Carmo, Maria Teresa de Noronha ou António Rocha foram as vozes que a ajudaram a crescer como fadista.

Fado Veneno, disco que Luísa Rocha está a lançar este ano, já teve uma apresentação breve e parcial no festival Caixa Alfama, mas só agora é apresentado em sala, no ciclo Há Fado no Cais. Será esta sexta-feira, no Pequeno Auditório do CCB, às 21h. Quem ouviu Uma Noite de Amor, que teve edição entusiasmada de David Ferreira, descobriu nele uma voz que, já rodada nas casas de fado, mostrava um vinco pessoal promissor. Hoje, Luísa Rocha destaca uma evolução positiva entre os dois trabalhos, mantendo-se Carlos Manuel Proença na produção do disco novo. “Todos os dias evoluímos um bocadinho e é a maturidade ganha nestes quatro anos que eu trago para este disco. O fio condutor também é diferente. No outro refugiei-me mais no tema do amor, mas aqui a temática é uma análise que eu quis fazer de autoconhecimento.” Não disse nada aos compositores acerca desta ideia, mas pediu-lhes letras a ver se encaixavam nela. E resultou. “Logo a primeira letra que eu escolhi, definitivamente, para fazer parte do disco, é do livro de letras para fado da Maria de Lourdes Carvalho que se chama Meu Peito Rasgado a Fogo. Achei que, se eu escrevesse sobre mim, eram exactamente aquelas palavras que eu usaria para me descrever.” A par daí, pediu a vários autores letras que eles achassem que podiam ter alguma coisa a ver com a personalidade dela. “Só depois é que lhes expliquei a aminha intenção. Foi um exercício engraçado.”

O disco conta, entre outros, com letras da autoria de Tozé Brito, Jorge Fernando, Paulo de Carvalho e Nuno Miguel Guedes, além da já citada Maria de Lourdes Carvalho. Foi há dois que começou a pedir letras, a reunir repertório. Escolheu o título Fado Veneno, porque o fado com esse título, que aliás abre o disco (a letra é de José Carlos Malato), tem, segundo ela, “uma particularidade muito forte e diferente do usual. Normalmente temos tendência a culpabilizar o parceiro: é a condição humana, faz parte de nós. Mas nesta letra é o contrário: uma mulher assume que ama o parceiro mas reconhece que a sua forma de estar na vida não é compatível com a dele. Percebe isso a tempo e conclui que se insistir neste amor, o que hoje é um remédio, na dose errada passará a ser um veneno. Às vezes devíamos ter coragem de assumir que a culpa não é só dos outros.”

Apesar das suas aparições noutras salas e lugares (foi ela que deu corpo e voz à grande fadista Ercília Costa no polémico filme Amália), Luísa continua ligada às casas de fado: “Canto na Casa de Linhares e muitas vezes também n’O Faia, oque é muito engraçado porque tenho a oportunidade de estar com aquele que acho que é o meu grande mestre, o António Rocha, e hoje tenho-o como colega.” No espectáculo do CCB, tocarão com ela Carlos Manuel Proença (viola de fado), Ângelo Freire (guitarra portuguesa), Guilherme Banza (guitarra portuguesa) e Daniel Pinto (viola baixo). Será um concerto dividido em três partes. “A primeira será de temas que eu cantei antes de ter o meu repertório, no fundo vou mostrar as minhas referências; a segunda, terá alguns temas do primeiro disco; e a terceira terá o novo. Vou tentar trazer o melhor de mim.”

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