As saudades do cinema de bairro

Escobar gostava de ser um filme-Z italiano dos anos 1970 numa altura em que isso já não existe.

Foto

Em tempos que já lá vão, esta ficção livremente inspirada na personagem real que é o narco-traficante colombiano Pablo Escobar seria um bom exemplo do filme-Z de produção corrente italiana: uma história sensacionalista com um actor de nome em fim de carreira, um filme puramente funcional e oportunista para vender aos cinemas populares.

Mas esse cinema italiano já não existe, e de italiano Escobar – Paraíso Perdido tem apenas o realizador, Andrea di Stefano (actor que passa aqui pela primeira vez para trás da câmara). É antes um euro-pudim de capitais pan-europeus, rodado no Panamá para maior glória de Benicio del Toro, a somar mais uma personagem latina a um currículo que já incluia Che Guevara no excelente díptico de Steven Soderbergh.

São esses tiques de cinema de bairro que tornam o filme de Di Stefano interessante – a música muito Morriconiana de Max Richter, o cabotinismo magnético do seu actor, o melodramatismo esquemático mas levado até ao fim da trama – mas não chegam para fazer dele mais do que uma curiosidade.

Sugerir correcção
Comentar