As loucas da Toscana

Uma história com potencial humano é afogada num melodrama "chapa quatro" que se conforma a lugares-comuns.

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As personagens deixam de ser pessoas de carne e osso para passarem a ser exemplos, arquétipos, facilidades de melodrama
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Ah, o velho adágio que diz “de são e de louco todos temos um pouco” e que tanto inspira os cineastas para contar histórias edificantes onde os loucos acabam por provar ter o coração no sítio certo e perceber aquilo que os “sãos” não percebem…

O italiano Paolo Virzì não só quis reiterar tais boas intenções, como decidiu fazer do seu filme sobre a loucura um manifesto em prol do tratamento humano dos doentes mentais e um libelo contra os hospitais psiquiátricos prisionais. Nada contra. Só que ao fazê-lo desbarata as suas actrizes e a sua narrativa num melodrama competente mas transparente, que parece criticar a cultura italiana do tráfico de influências, do compromisso e da cunha, mas na verdade se limita a perpetuá-los como única solução para os problemas. E, contudo, o ponto de partida dava pano para mangas: numa instituição-modelo rural para doentes mentais, uma mitómana metediça que diz ser socialite e uma depressiva suicida e solitária criam uma relação improvável, acabando por partir numa aventura inesperada quando, após uma saída terapêutica, a carrinha se atrasa e elas apanham o autocarro da carreira.

O que se segue é uma telenovela de luxo: Donatella, a depressiva, é uma desgraçadinha a quem a vida correu mal e a quem os médicos querem dar uma oportunidade mas os serviços sociais não, e Beatrice, a mitómana, é mesmo uma herdeira que esbanjou o estatuto por amor e é tolerada pelo dinheiro que ainda vai tendo. As personagens deixam de ser pessoas de carne e osso para passarem a ser exemplos, arquétipos, facilidades de melodrama de linha de montagem, espartilhadas por uma narrativa cujas constantes guinadas de tom, entre a comédia e a tragédia, parecem querer negar-lhes a liberdade que elas tanto querem. Houve uma altura em que o cinema italiano era capaz de fazer isto mil vezes melhor, mas Loucamente não passa de um “caso da vida” televisivo a fingir que é cinema.

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