As “confissões” de Orson Welles, 30 anos depois da sua morte

Fragmentos de uma autobiografia que o cineasta terá começado a escrever na década de 1970 estão a ser processados pela Universidade do Michigan.

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Orson Welles terá começado a sua autobiografia nos anos 1970

Orson Welles era apaixonado pelo ilusionismo: aprendeu os primeiros truques com o próprio Houdini e planeou fazer o seu próprio programa televisivo de magia, The Orson Welles Magic Show. Mas o último passe de magia de Welles pode muito bem ter-se dado agora, 30 anos após a sua morte.

Quando oito caixas de papéis e documentos enviadas da Croácia chegaram à Universidade do Michigan no início deste mês, arquivistas norte-americanos descobriram fragmentos de uma autobiografia intitulada Confessions of a One-Man Band, que o cineasta terá começado a escrever na década de 1970. Como muitos filmes e projectos de Welles, é uma obra inacabada, e os arquivistas notam que ainda é demasiado cedo para dizer se chegará a ter forma suficiente para ser publicada em livro.

“O material está disperso e ainda estamos a processá-lo”, explicou Philip Hallman, o director da colecção Screen Arts Mavericks and Makers da Universidade do Michigan, ao New York Times. O original – dactilografado, anotado à mão e corrigido por Welles – foi descoberto entre o espólio adquirido recentemente a Oja Kodar, actriz croata, companheira do realizador nos últimos 24 anos da sua vida. “[O manuscrito] está muito longe de uma versão final, mas isso não quer dizer que não vai ser importante para académicos e investigadores”, disse Hallman ao Los Angeles Times. “Encontrámos imensas pistas que explicam porque é que ele não acabou, ou não pôde acabar, alguns dos seus projectos.”

Nas suas Confessions, Welles escreve sobre os pais, a segunda mulher – a actriz Rita Hayworth – o realizador D.W. Griffith e uma sessão de copos com Ernest Hemingway. O escritor tinha acabado de receber o Nobel da Literatura, e, segundo o New York Times, Welles escreve que o prémio deveria ter sido atribuído à dinamarquesa Isak Dinesen (também conhecida como Karen Blixen) que o realizador adaptou ao cinema, em Uma História Imortal (1968).

A Universidade do Michigan detém o maior arquivo dedicado a Orson Welles, entre fotografias, correspondência, guiões, relatórios de produção e financiamento e materiais audiovisuais adquiridos junto de familiares e colaboradores do realizador. Em Junho a universidade acolhe um simpósio sobre Welles, que contará com a presença de Oja Kodar. Segundo Hallman, a viúva de Welles planeia fazer truques de magia com o público.

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