Aplausos do público e reservas da crítica na abertura do Festival de Bayreuth

Estreia de Parsifal, com encenação de Uwe Eric Laufenberg, realizou-se sob fortes medidas de segurança.

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Medidas de segurança extraordinárias no dia da abertura do Festival de Bayreuth AFP PHOTO / dpa / Timm Schamberger / Germany OUT
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Busto do compositor no Museu Richard Wagner, em Bayreuth Michael Roddy/ REUTERS

Correu sem incidentes, mas também sem a festa mediática habitual, a abertura, na segunda-feira, da 105.ª edição do Festival de Bayreuth, na Alemanha. E a encenação da ópera de estreia, Parsifal, por Uwe Eric Laufenberg, afinal não originou a temida controvérsia por uma eventual crítica ao islão.

As medidas de segurança extraordinárias, que muitos consideraram “draconianas e exageradas", decididas em consequência dos atentados que ultimamente ocorreram na região da Baviera, acabaram por determinar a atmosfera do início deste festival exclusivamente dedicado às óperas de Richard Wagner (1813-1883).

Não houve o tradicional tapete vermelho a receber a elite social, política e económica que costuma mostrar-se no evento – este ano, nem sequer a chanceler Angela Merkel se deslocou ao festival –; a festa do dia de abertura foi cancelada, num gesto de respeito e homenagem às vítimas dos ataques em Wurzburg, Ansbach e Munique. E o já clássico concerto frente ao túmulo de Wagner, no jardim de Wahnfried, a sua última casa, foi também aberto com a leitura de um comunicado a expressar repúdio e simultaneamente compaixão não apenas pelas vítimas dos atentados na Baviera mas igualmente pelos de Nice, Orlando, Paris e Bruxelas.

Dirigidos pelo maestro alemão Eberhard Friedrich, o Coro e a Orquestra do Festival de Bayreuth fizeram uma actuação breve, que terminou com o fim do 3.º acto de Parsifal, criando, segundo a descrição do repórter do jornal El País, “um clima de indescritível beleza e libertação num cenário incomparável”.

Já dentro do teatro mandado construir por Wagner há cerca de 140 anos, na Colina Verde, as seis horas da encenação desta ópera do compositor alemão foram acolhidas e aplaudidas entusiasticamente pelo público, diz a AFP.

Em destaque, estiveram Klaus Florian Vogt, no papel do protagonista, com uma actuação celebrada “pela sua voz de tenor clara, muito característica”. Mas, seguindo ainda a descrição da AFP, o protagonismo de Parsifal "quase foi roubado” pela interpretação do baixo-barítono alemão Georg Zeppenfeld no papel de Gurnemaz, e a soprano russa Elena Pankratova, em estreia em Bayreuth, conseguiu também “uma performance estupenda” na figura de Kundry.

Sobre o desempenho do maestro alemão Harmul Haenchen – que substituiu à última hora o letão Andris Nelsons, alegadamente por este não ter gostado do impacto das medidas de segurança na preparação do festival –, foi-lhe elogiada a “leitura transparente e leve da partitura”.

Já a encenação de Uwe Eric Laufenberg não parece ter colhido a mesma unanimidade. O director alemão situou no século XXI a fábula medieval em volta da Távola Redonda que está na base da ópera de Wagner, transportando a acção para dentro de uma igreja destruída por bombas no Médio Oriente, onde monges cristãos cuidam de refugiados de diferentes confissões. Não se confirmou, assim, o temor de uma referência explicitamente crítica ao islão, que surgiu nos últimos dias. Mas a AFP reportou a intervenção de críticos, num debate pós-espectáculo, a considerar a encenação de Laufenberg um “cliché de gama baixa”, e "teatro pomposo e provinciano”; e a ler a representação das ninfas que seduzem Parsifal num harém oriental como uma visão "estereotipada" que remete para "o imaginário colonial do século XIX".

O festival prossegue, até 28 de Agosto, com outras novas encenações das óperas de Wagner – entre elas, haverá cinco novas récitas com Parsifal.

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