Ao estilo do Texas

Jon Lundbom atinge a maturidade.

Foto
Jon Lundbom faz-nos acreditar na magia do jazz

Jon Lundbom não é nenhum novato. Pertencente a um núcleo de músicos que gravitam em torno da Hot Cup (para onde gravam os iconoclastas Mostly Other People Do The Killing), optou por mudar de Nova Iorque para Austin, no Texas. Uma mudança de ares que lhe fez bem. Neste Jeremiah, quinto registo do seu projecto Big Five Chord, surge com maior foco e com uma consistência que foi “estilhaçada” nos anteriores registos da banda. Aqui, a atitude free-jazz e punk da banda surge equilibrada por composições de inspiração pós-bop fortes e, sobretudo, por improvisações memoráveis suportadas por uma secção rítmica em estado de graça. À guitarra “John Scofield meets James ‘Blood’ Ulmer” de Lundbom, juntam-se os quatro restantes membros do quinteto - Jon Irabagon (sax soprano), Bryan Murray (saxofones tenor e balto!), Moppa Elliott (contrabaixo) e Dan Monaghan (bateria), reforçados ainda, em alguns temas, por Justin Wood (sax alto e flauta) e Sam Kulik (trombone). The Bottle, primeiro tema e um dos cinco originais compostos por Lundbom, abre as hostilidades com aquilo que parece ser uma composição pós-bop convencional, algo que se revela rápidamente ser ilusório. À poderosa linha harmónicamente dissonante cantada por Irabagon e Murray segue-se um inventivo solo de guitarra polvilhado de energia rock, a evocar McLaughlin, para depois surgir um dos momentos mais desconcertantes do disco - um solo de Murray em Balto (um sax alto com boquilha de barítono e uma palheta de plástico) one mais parece estarem a esganar um ganso. Murray evolui no entanto para um fraseado mais convencional e consegue consttruir uma das improvisações chave do álbum, muito graças ao acompanhamento telepático de Elliott e Monaghan. Quando se inícia o tema seguinte, Frog Eye, já todas as nossas expectativas foram dinamitadas e não sabemos bem o que esperar. E eis que surge outro dos momentos altos do disco, uma brilhante e iincisiva improvisação de Irabagon em sax soprano, como já não lhe ouvíamos há algum tempo. Por esta altura já percebemos que estamos entregues a um bando de outlaws decididos a sabotar as fundações da tradição jazz...mas tendo, todos eles, argumentos fortíssimos para o fazer. Até ao final, numa sequência brilhante de arranjos e improvisações, destaque ainda para o arranjo “Ellingtoniano” de First Harvest, da autoria de Wood (com excelente solo do sax tenor de Murray), e particularmente, para a exuberância criativa de Lick Skillet, com uma intro abstracta de Kulik, no trombone, e uma improvisação vibrante de Wood na flauta, fazendo-nos acreditar, uma vez mais, na magia do jazz.

Sugerir correcção
Comentar