Aniversário da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva comemorado com apelo ao Estado

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Ricardo Salgado, presidente do BES, e Francisco José Viegas, secretário de Estado da Cultura João Henriques

A Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva (FRESS), em Lisboa, comemorou este sábado os 59 anos da sua criação numa cerimónia de homenagem ao seu fundador, o banqueiro e coleccionador de arte Ricardo do Espírito Santo Silva. Entre elogios e votos de louvor ao trabalho da instituição, foram também evocadas as dificuldades da Fundação nesta altura de crise com um pedido de apoio a Francisco José Viegas, secretário de Estado da Cultura, que presidiu à cerimónia.

O pedido de maior atenção por parte do Estado partiu de Luís Ferreira Calado, presidente do conselho directivo da FRESS, lembrando os cortes orçamentais que as fundações ligadas à cultura sofreram este ano.

“Espero que a presença do secretário de Estado da Cultura seja um sinal de empenhamento do Estado nesta Fundação, que tem tido um valioso e inestimável contributo para as artes decorativas portuguesas”, disse Calado, explicando que se não fossem as receitas próprias da Fundação, instalada no Museu de Artes Decorativas Portuguesas, no edifício do Palácio Azurara, assim como a ajuda dos mecenas, não seria possível continuar o trabalho, que se estende também às oficinas de conservação e restauro. “Nem sempre fomos respeitados. O Estado não tem cumprido com as obrigações.”

Em resposta, Francisco José Viegas prometeu prestar uma maior atenção, apesar de todas as limitações orçamentais. Em causa estão os cortes anunciados de 30% às fundações cujo financiamento dependa em mais de 50% do Estado. “Os tempos que atravessamos são difíceis, sendo dever e obrigação do Estado reconhecer o papel das fundações”, disse Viegas, acrescentando que a Secretaria de Estado da Cultura está a estudar alterações na área do património, que não passem apenas por financiamentos directos, como também com apoio tecnológico, infra-estruturas ou planeamento profissional. “Trataremos de corrigir este défice e este erro, desejando que para o ano, na comemoração dos 60 anos da FRESS, possamos também assinalar uma nova etapa de colaboração”, conclui Francisco José Viegas, para quem a FRESS tem desenvolvido um trabalho “de serviço público” exemplar.

Para Emílio Rui Vilar, presidente da Fundação Gulbenkian, o apoio às fundações é imprescindível, pelo papel que estas têm na sociedade. “As fundações são um instrumento de desenvolvimento da sociedade, actuando muitas vezes em áreas nas quais o Estado nem sempre se revela capaz de dar resposta”, disse Vilar, também presidente do Centro Europeu de Fundações. “É através das fundações, que são instituições altruístas e sem fins financeiros, que os cidadãos devem intervir”, acresentou o responsável, lembrando o papel da Fundação Calouste Gulbenkian no panorama cultural português. “Tanto Calouste Gulbenkian como Ricardo do Espírito Santo Silva evitaram que as suas colecções se dispersassem ao criarem as suas fundações.”

Ricardo Salgado, presidente do BES e neto de Ricardo do Espírito Santo Silva, lembrou ainda o contributo do seu avô para a criação de um projecto cultural que continua a ter destaque nos dias de hoje. “Com tantas dificuldades a FRESS tem desenvolvido o que tem desenvolvido de forma muito válida”, afirmou Salgado, que falou também do lado mais pessoal do seu avô, contando uma ou outra história familiar. “Foi um dos precursores do coleccionismo das artes decorativas e um observador atento do mundo e principalmente do seu país”.

Em 1953, Ricardo do Espírito Santo Silva doou o Palácio Azurara e parte da sua colecção privada ao Estado português, nascendo assim a Fundação com o seu nome, criada como museu-escola com a finalidade de proteger e divulgar as artes decorativas portuguesas e os ofícios com elas relacionadas.

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